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TARÔ

 
Tarô - O Sol
XVIIII — O SOL: É o centro ou coração de nosso sistema, ao redor do qual giram os planetas. Os antigos renderam culto ao sol, não em um sentido idolátrico, como se acredita, mas sim porque viam nele o signo da luz interna do espírito, e à fonte de toda vida na terra. Predomina nesta carta a cor amarela, símbolo do brilho e da inteligência criadora. Representa um pai do qual emanam raios de várias cores, retos e flamígeros -luz e calor- cujas energias alimentam e fazem crescer a seus filhos, figurando também a união da família e do casal, assim como toda classe de uniões, sociedades e fraternidades. Em sentido invertido (o soberbo sol de meio-dia, sua queda e seu ocaso) é a vaidade, a falsa aparência e o engano dos sentidos. Também, como vimos, é relacionado com o ouro, e em geral com os metais e a mineração.
DIREITA INVERTIDA
Luz - Vida - Calor
Inteligência
Arte - Criatividade
Razão - Energia radiante
União - Matrimônio - Casal
Família - Criação
Fraternidades
Sociedades - Associações
Irmandades - Sociedade civil
Escuridão - Deserto – Frieza
Falta de sentido - Engano dos
sentidos - Seca - Tristeza
Falta de espírito criativo
Racionalismo - Vaidade - Sober-
ba - Presunção - Falsa juven-
tude - Decorado brilhante
Brigas - Rixas - Inimizade
Falso artista - Falsa aparência
 
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OS CICLOS E A HISTÓRIA

 

O processo histórico das civilizações e das culturas está assinalado em realidade pelas leis dos ciclos e dos ritmos que, como sabemos, são as mesmas que regem em todas as ordens da manifestação universal. O simples fato de comprovar que uma civilização, como todo ser, nasce, cresce, decai e morre, é um exemplo a mais, e bastante gráfico, de que esta segue e repete a seu nível correspondente a lei quaternária em que se fragmenta todo ciclo.

Servindo-nos uma vez mais das analogias e correspondências simbólicas, podemos comprovar que os ciclos das civilizações estão todos compreendidos dentro de um ciclo maior que abrange o da existência completa da humanidade, que se divide em quatro períodos ou grandes idades, que os hindus chamam um Manvántara, e que compreende a Idade de Ouro, a Idade de Prata, a Idade de Bronze e a Idade de Ferro, segundo termos que tiramos da antigüidade grego-latina. Seguindo com a mesma lei analógica, os ciclos históricos estão inexoravelmente vinculados ao fluxo e vazante do tempo cósmico em sua perpétua recorrência. Neste sentido, as eras astrológicas, nas que um signo zodiacal domina com sua influência um determinado período histórico, verifica o que dizemos.

Considerada globalmente, a história da humanidade nos apresenta como um imenso cenário ou cenário (o teatro do mundo) no qual se pode observar como povos inteiros aparecem e desaparecem obedecendo a uma lei inexorável. Igualmente podemos ver a história como um grande corpo (tal como o próprio cosmos) cujos órgãos, e o indefinido de células que o compõem, têm a missão de fazê-lo funcionar. E assim, como o corpo físico está animado por um coração que lhe insufla a vida, de igual maneira a existência e a própria razão de ser das sociedades humanas foram possíveis por terem albergado em seu interior o depósito sagrado do Conhecimento e da doutrina metafísica, que não é outra que a Ciência Sagrada.

Sem a presença dos símbolos, ritos e mitos reveladores do supra-humano –e mediante os quais se pode escapar da recorrência cíclica dos nascimentos e mortes assinalados pelo Deus Tempo que a tudo abarca– a história careceria de sentido e seria tão somente um absurdo, pois lhe faltaria o mais essencial, que é o Espírito; ou sucederia uma mera formulação de dados e datas enquadrados em compartimentos estanques sem relação entre si, quando na verdade é justamente o contrário: uma poética onde fica impressa a alma de homens e de povos.

Se o cosmos inteiro obedecer a um plano e a uma ordem que respondem aos desígnios divinos e nos quais tudo desempenha uma função e um destino específico, é óbvio que as civilizações e as culturas tradicionais participaram da realização e cumprimento desse plano, perpetuando-o em cada ciclo particular com suas formas e características próprias, avivando e mantendo assim o fogo inextinguível da Sabedoria das origens. Neste sentido existe necessariamente um fio de continuidade sutil e invisível entre todas as civilizações e especialmente entre aquelas que se manifestaram em uma mesma área geográfica ou continente.

Quando uma civilização, ao esgotar suas possibilidades existenciais, está a ponto de perecer, outra, mais jovem e com elementos novos vem substituí-la, produzindo-se com freqüência uma espécie de osmose espiritual ou transferência dos princípios sagrados de uma para a outra.

 
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JANO

 

Janus-Bifrons, deus romano, de origem assírio-babilônica, e que se encontra também em outras tradições muito arcaicas, olhe com seu rosto dual nas direções opostas do espaço e do tempo calendárico. Espacialmente, marca o eixo Norte-Sul; temporalmente, os solstícios de inverno e de verão. É pois um mediador entre céu e terra, enquanto faz corresponder ao céu com o Norte e, inversamente, à terra com o Sul. Igualmente, é a deidade que abre no hemisfério Norte a porta do ano no inverno –movimento ascendente do Sol– e a fecha no solstício de verão, quando o astro começa seu curso descendente. De um ponto de vista iniciático o solstício de verão corresponde à porta dos homens e constitui a entrada aos pequenos mistérios da antigüidade, enquanto que o de inverno se vincula com a porta dos deuses e os chamados grandes mistérios.

Astrologicamente, o verão, associado ao meio dia, corresponde-se com o signo de Câncer, enquanto o inverno o faz com o de Capricórnio. O Natal cristão (urânica) celebra-se em 24 de Dezembro, e em 24 de Junho se festeja a noite de bruxas (ctônica). Nestas mesmas datas, na Maçonaria se recorda aos dois "São João", o que abre a história evangélica e o que recebe a mensagem testamentária.


Jano romano

fig. 20


Toda classe de fatos assombrosos e heróicos atribuíram os romanos a Jano, um dos maiores deuses de seu panteão. Entre outras coisas teria governado Roma em uma idade de ouro, onde tudo era perfeito. Também era o protetor da cidade e em tempo de guerra as portas de seu templo se deixavam abertas para que pudesse ir a ajudar a seus habitantes. Deidade intermediária que com sua dupla face a tudo assinala, símbolo da ambivalência, em particular do homem, seus atributos eram a chave e o barco, herdados pelos pontífices católicos. 

Seu rosto central, invisível, está vinculado com o não-tempo, ou tempo primitivo das origens, e se corresponde no espacial e construtivo com o eixo de simetria, e portanto com uma via ou caminho de união, de permanente conjunção de opostos, o que explica que presidisse nos Collegia fabrorum, os grêmios e iniciações dos artistas e artesãos romanos.

 
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SOBRE A GRAMÁTICA, DIALÉTICA E RETÓRICA:

 

Precedentemente, falamos sobre o tema das sete artes liberais. Então, dizíamos que ao Trivium (a tripla via) corresponde a Gramática, a Dialética e a Retórica, ou seja, as palavras, vozes e nomes das coisas e que no esoterismo cristão se assimilavam respectivamente às esferas da Lua, de Mercúrio e de Vênus. Para o Alfonso X, o sábio, a primeira destas ciências "limpa a língua gaga" para que fale de forma reta; a segunda "lima a ferrugem da falsidade"; a terceira "entalha a obra néscia e a compõe de formosuras". Igualmente, a primeira "dá ao homem o entendimento"; a segunda "induz-lhe na crença das coisas" (ou seja: na verdade); a terceira "admoesta e traz as outras pa acabar os feitos que elas querem" ou despertam. Do mesmo modo: "a primeira nos ensina a falar diretamente; a segunda, a ser úteis e agudos; a terceira a dizer admoestando e ordenadamente".

Com respeito à Gramática, dizia Aristóteles que ela era "escrever o que se enuncia"; em todo caso, isto tem pouco a ver com o que hoje se entende por gramática. E está bem claro que ela existia antes que sua mera codificação, como é óbvio para estabelecer uma similitude que o direito existiu antes que as leis romanas. A pretendida ciência moderna inclui certas rigidezes que é preciso destruir; a gramática castelhana, tal qual a conhecemos, nasce no século XVIII e é contemporânea de Descartes e do racionalismo. Este problema vem de longe: Horácio afirmava que o uso é o árbitro e senhor das línguas e as normas um artifício auxiliar. Esta mesma crítica é válida a respeito da lógica, tomada como ciência, e sua assimilação, ora à dialética, ora à retórica, e pode se pensar com razão que este engano da mania classificatória vem do fundo da filosofia grega, em grande parte iniciado pelo próprio Aristóteles, o que deu lugar aos "sistemas" dos modernos (em especial depois do século "das luzes") e que desgraçadamente hoje se identificam com a "filosofia".

 
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TARÔ

 
Tarô - O Juízo
XX — O JUÍZO: Este arcano, por seu número, foi associado ao século XX. Vê-se um anjo tocando uma trombeta e sustendo uma bandeira com uma cruz amarela. É o símbolo cristão da ressurreição dos mortos e do juízo final. Os três personagens nus que se levantam da tumba, representam o matrimônio alquímico do enxofre (masculino), do mercúrio (feminino) e do sal (neutro), estando o último de costas, representando o sacerdote que os benze. É a carta dos anúncios e das revelações, dos chamados do espírito, e do despertar da consciência. O esotérico, que por sua própria natureza secreta se manteve oculto, aqui se faz visível e sai à luz, anunciando o advento de um mundo novo no qual a verdade será acessível a todos os seres, como era na origem. Símbolo de ritos e cerimônias, invertida significa a superstição e a idolatria.
DIREITA INVERTIDA
Revelações - Anúncios
Despertar - Realização
Coisas esperadas que chegam
União - Realidade
Coisas ocultas
O oculto que aflora
Perfeição - Misticismo
Chamados - Sinais
Integridade - Ritos
Falso espiritualismo - Bulha
Ruídos - Propaganda - Escânda-
los - Dificuldade na realização
Impossibilidade de obter a união
Superstição - Fanfarronice
Espiritismo - Satanismo - "Ritos"
Obscurantismo - Idolatria - Fei-
tiçaria - Bruxaria - "Misticismo"
Malefícios - Fantasmas
 
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CABALA

 

A Cabala dá fundamental importância à aparente contradição entre a transcendência infinita de Deus e sua presença imanente na terra. Em sua transcendência, o Supremo não pode ser compreendido nem conhecido; sua imanência, sua criação deste mundo e sua habitação nele, é explicada pela Cabala, como estivemos vendo ao longo deste manual, por uma série de emanações sucessivas que constituem o cosmos e a Árvore da Vida Sefirótica, ou seja, os atributos divinos conformando o Universo.

Mas essas emanações, ensina a Cabala, foram por sua vez originadas pela Tsim Tsum. Para fazer lugar à criação, Deus se retira e deixa um espaço descoberto, no qual brilha um pequeno ponto luminoso, a concentração da luz divina que fará possível a primeira emanação, Kether, e dali no mais, o fluxo permanente das emanações criativas e reveladoras. Esta é a teoria (no sentido etimológico do termo) da Tsim Tsum cabalística. Uma "contração" no espaço interno da deidade, que ao se retirar deixa um resíduo de si (reshimu), que se converte por dilatação em sua força expansiva e criadora, e as emanações que dela se desprendem são as que explicam a criação inteira, o desdobramento do manifestado, e portanto a presença de Deus no Mundo, a imanência divina.

 
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ASTROLOGIA
 

Como já sabemos, há três signos zodiacais atribuídos a cada um dos elementos, ou seja: fogo, terra, ar, água. Assim ao fogo correspondem os signos de Áries, Leão e Sagitário; à terra, Touro, Virgem e Capricórnio; ao ar, Gêmeos, Libra e Aquário; e à água, Câncer, Escorpião e Peixes, como se pode apreciar na preciosa gravura logo abaixo.


Astrologia

fig. 21


Algumas especulações astrológicas e herméticas consideram que os signos zodiacais correspondentes a um elemento se dividem por sua vez em três tipos de energias ou cargas energéticas: positiva, negativa e neutra; assim, por exemplo, dos três signos zodiacais associados ao fogo, Áries seria o positivo, Leão o negativo ou passivo e Sagitário o neutro. Damos a seguir uma tabela dos signos, sua vinculação com o elemento e sua carga energética dentro desse mesmo elemento.

 

Áries Fogo Ativa Libra Ar Ativa
Touro Terra Passiva Escorpião Água Passiva
Gêmeos Ar Neutra Sagitário Fogo Neutra
Câncer Água Ativa Capricórnio Terra Ativa
Leão Fogo Passiva Aquário Ar Passiva
Virgem Terra Neutra Peixes Água Neutra
 

Ver-se-á então nos signos da terra que Touro é passivo com relação a Capricórnio, que é ativo, enquanto que Virgem aparece como neutro; igualmente nos de ar, Libra é ativo, Aquário é passivo e Gêmeos neutro. O mesmo nos de água aonde Câncer exerce como energia ativa, Escorpião como passiva e Peixes como energia neutra.
 
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A CONFUSÃO ENTRE METAFÍSICA E ASCETISMO:

 

Muitas pessoas sofrem um pecado que é preciso esclarecer, que pode ser a raiz de muitíssimos outros males, e que, inclusive, seja-lhes um impedimento para sua realização. Este equívoco trata-se da tremenda limitação de compreender o sagrado tão só como santidade, e portanto como algo inalcançável do qual só são dignos aqueles poucos escolhidos completamente fora de série, chamados "Santos" (sejam de uma ou de outra tradição, em particular se o demonstraram com fenômenos, milagres ou questões paranormais), com toda a carga devota, piedosa, beata e supersticiosa que essa idéia traz aparelhada. Estes Santos ou santarrões –e melhor seria se fossem ascetas seriam os autênticos "mestres" e não os sábios ou os guerreiros e menos ainda os artistas ou comerciantes, que certamente são apreciados, e até respeitados, mas aos quais não lhes dá uma categoria mais que secundária quase profana pelo fato de que, em última instância, estas pessoas às quais estamos nos referindo associam "espiritualidade" exclusivamente com "santidade", e até com castidade e outras coisas piores, ou seja: com o "religioso" e com o "moral", e não com o metafísico.

Quer-se deixar assentado que as vias de realização espiritual são várias, e distintos os caminhos que a ela levam. E não só são diferentes as formas tradicionais mas também dentro de cada uma delas há caminhos diferentes de iniciação. Este manual nos dá numerosos exemplos disso. O que interessa é a realização do Conhecimento e a obtenção da Sabedoria, o que não exclui o emocional, nem nenhuma outra experiência encaminhada a esse fim, e tampouco se opõe ao "religioso", e menos ainda ao moral, sempre e quando estes conceitos não pretendam usurpar o território do metafísico e tratar de reduzi-lo, no melhor dos casos, a um mero "misticismo" e, no pior, a uma moral baseada em certas normas de conduta convencionais que são julgadas oficialmente como "boas". Normas que dariam sua aprovação hipotética ao que se deve entender por sagrado de acordo a parâmetros que esta fixa, baseada na dissimulação derivada do engano de pretender conhecer o sagrado, quando na realidade ele é suplantado pelo religioso e pelo moral e, por desconhecimento, identificado sempre com a "santidade" ou com o "ascetismo", os quais são apenas alguns dos caminhos, quando o são, na viagem do Conhecimento.

 
 
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