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O MÉTODO FUNDAMENTAL

 

O estudo e a meditação sobre os textos herméticos, o Ensino da Cabala sefirótica, as imagens e a estrutura móvel propostas pelo Tarô, tanto quanto as da Alquimia e suas operações, assim como a da ciência Astrológica e Pitagórica, e o discurso platônico, produzem na alma que contempla um reencontro com a Gnose Perene, conhecimento e sabedoria obtidos a partir da ascensão paulatina pelas esferas e experimentados de modo vital a partir de uma teurgia fundamentalmente individual. Ou seja, um método "objetivo" que se encarna de modo "subjetivo", em forma "mágica".

Isto desde já se deve à correspondência entre todos os planos da realidade, tanto do macro quanto do microcosmos, e do amor entre suas partes que, partindo da Unidade Original, primeira determinação do Não Ser, articulam-se desde a Idéia e do Arquétipo até a materialidade mais concreta de nosso mundo sensível através do plano intermédio, povoado por entidades espirituais informais e sutis, que atuam como mensageiras concretas das emanações mais altas das quais são recipiendárias, e que transmutam em vibrações que, por sua vez, geram as inumeráveis energias do mais baixo. Para o Hermetismo, só é preciso reverter este processo descendente (que no homem se denominou Espírito-Alma-Corpo), isto é, fazê-lo ascendente para remontar assim até o primeiro Princípio, amparados e protegidos pelo orvalho celeste, cristalização do supra-celeste.

 
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DANÇA: EXERCÍCIO PRÁTICO

 

Conselho: Deixar se levar pelo movimento e pelos giros constantes da dança, que nos tiram de nossa percepção ordinária e nos proporcionam um exercício tão descondicionador quanto ligado a outras leituras das dimensões do movimento em sua expressão atemporal e espacial, que logo são observadas nos deslocamentos de maneira direta, não dialética e racional; os movimentos harmônicos inspirados pelos deuses do ar nos transpõem, mediante a ruptura de nosso falso controle, a espaços e ciclos mais amplos daqueles que laboriosa e equivocadamente forjamos em nossos cotidianidade por problemas de autocensura interna.

 
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VIRGILIO-DANTE  II

 

Na simbólica iniciática, a “porta dos infernos”, ou Ianua Inferni, que é precisamente a “porta dos homens” ou dos “ancestrais”, é a que o ser em procura de sua realização espiritual deve franquear antes de sair pela “porta dos deuses”, ou Ianua Coeli, aquela que dá acesso aos estados supra-individuais ou supra-humanos. Mas com o descenso ao infra-mundo ou “reino dos mortos”, não termina a função de guia assumida por Virgilio, senão que esta ainda permanece, em decorrência da não menos penosa ascensão pela montanha do Purgatório, durante a qual Dante se purifica e se re-genera dos “sete pecados capitais”, reverso negativo das “sete virtudes”, setenário este que manifesta as energias ambivalentes dos planetas. Por outro lado, o percurso pelo qual ascende equivale às provas iniciais. Desta forma, a estrutura literária da Divina Comédia (e especialmente do Inferno e do Purgatório) está também inspirada na Eneida virgiliana (concretamente no Canto VI), onde se relata o descenso do herói troiano Enéias no antro da Sibila de Cumas. Ademais, este mesmo esquema, que por outro lado é universal, repete-se nos mistérios órficos e de Elêusis, bem como no descenso de Ulisses ao antro das ninfas. Igualmente há que se considerar a influência do islã, e concretamente no que se refere ao relato do mais importante mestre espiritual do sufismo, Mohyddin ibn Arabi, que em sua obra Revelações de Meca descreve a "viagem noturna" de Mohamed através dos três mundos. Esta influência não é de se estranhar, pois, como já se disse em títulos anteriores, os intercâmbios doutrinais entre o esoterismo cristão e o islâmico foram bastante freqüentes na Idade Média.

É importante assinalar que Virgílio também simboliza a razão humana que deve prevalecer firmemente no iniciado, a fim de que não sucumba ante os três tipos de perigos com os quais deve se enfrentar em sua descida aos infernos: a queda no lamaçal, a volta para trás e a petrificação. Neste caso, a razão deve ser entendida como a síntese de todas as faculdades e virtudes correspondentes ao estado humano e que por isso mesmo refletem e manifestam a Razão ou Inteligência divina. Curiosamente a palavra latina ratio designa por igual a razão e o raio que conecta a periferia de uma circunferência com seu centro. Desta forma, e nos servindo uma vez mais da analogia geométrica, no contexto iniciático a razão (no sentido que lhe damos e não no qual lhe outorga o “racionalismo”) representa a via reta, ou “reta intenção”, que não terá que perder nessa viagem labiríntica da periferia de nós mesmos, até o centro ou ponto mais interno onde reside nossa autêntica identidade. É quando Dante alcança o Paraíso terrestre –situado no topo da montanha do Purgatório– que Virgílio, quer dizer a tradição de seus antepassados, cumpriu sua missão com respeito à horizontalidade humana. No Paraíso terrestre (o centro de nosso estado de existência) Dante encontra Beatriz, encarnação da Sabedoria e da Beleza transcendentes, e junto a ela empreende a viagem, desta vez vertical, através dos diversos céus planetários que simbolizam os estados superiores do ser, até alcançar a plenitude do Conhecimento e do acesso ao Paraíso celeste, onde reside "... o Amor que move o Sol e as demais estrelas."

 
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EXERCÍCIOS PRÁTICOS

 

Queremos lhe sugerir, se é que já não o efetuou, que realize o estudo do Agartha de noite. No começo de nosso Programa é mais indicado (embora de maneira nenhuma necessário ou imprescindível) realizar os exercícios e meditações nas horas diurnas, em especial de manhã, antes de enfrentar o mundo profano e cotidiano. Se isto foi assim, comece agora a praticar nas horas noturnas. Ao contrário, se até agora se exercitou de noite, deve começar a praticar os exercícios de dia, pelo menos durante um certo período. Na realidade, há adeptos que dizem que o trabalho alquímico deve ser efetuado do meio-dia em diante e outros que por anos trabalham só a partir da meia-noite, uma vez entenderam com os olhos bem abertos –na vigília de manhãs e tardes– a natureza de suas operações.

Deve-se esclarecer que não é unicamente que se recomenda este horário noturno pela maior tranqüilidade que oferece a noite na vida moderna e nas cidades contemporâneas, mas sim pela energia-força que contém, intimamente ligada à descida à interioridade da terra, ou aprofundamento de todos os aspectos e planos de nossa existência, tal qual o efetua o sol em seu percurso, para renascer em cada amanhecer, coalhado de beleza.

Também representa uma interessante forma de assimilação e aprendizagem o sonhar com o modelo do universo cabalístico, nossa Árvore da Vida Sefirótica. Se isto ainda não lhe aconteceu, faça os exercícios de visualização antes de se deitar, com a firme intenção de que esta aflore em seus sonhos.

Igualmente queremos indicar outra prática: comece a meditar todas as noites de lua cheia que possa, ou as que seja capaz. Faça os exercícios de respiração dados neste manual. Faça-os só ou com outro ou outros amigos/as que estejam realizando ou tenham seguido o Programa. Tenha a segurança de que muitas outras pessoas em diferentes partes do mundo estão fazendo o mesmo que você. Una-se a eles e sinta a força da energia da Boa Vontade, e a plenitude do Agartha em ação. Dedique de 1/2 a 1 hora a isto.

Acompanhe-nos nestas práticas cuja única intenção é a entrega completa a um Poder Superior e a Oração por nossos irmãos perdidos na confusão de um mundo profano. Carregue suas baterias e desfrute da Paz do Senhor e de uma vida cada vez menos opressiva.

 
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SOBRE O TRABALHO INTERNO

 

A luta por nos livrar dos condicionamentos que nos marcam e dos que inconscientemente obedecemos (fazendo-nos seus escravos, quando não seus cúmplices, por temor a destruir o que pretendidamente somos e a mudar nossa maneira de ser e existir) deve realizar-se com a assepsia do guerreiro e invocando a graça das deidades para que os espíritos nos guiem no intrincado labirinto do destino. O fruto de nosso desejo é a virgindade capaz de levantar todo nosso pequeno cosmo novamente, depois de morto às concepções caducas, mas agora edificando sobre uma ordem que escolhemos. Seria possível pensar que a construção a partir de um modelo análogo ao próprio universo fosse precisamente nosso condicionamento. Nesse caso estaríamos governados pelos númens, que sinalizam nosso caminho e a obediência às vozes interiores seria acessar o seu amor e misericórdia. Algo que sem dúvida tem que ver com o sagrado em detrimento do profano, marcado pela leitura egótica e literal, ou pela interpretação psicológica ou social, ou qualquer outra programação cultural, que nos faz ser o que o poder e o meio determinam em sua ignorância. Não houve tirania igual, nem que se assemelhasse sequer no totalitário ao que se produz na sociedade moderna, embora esta suponha nos deslumbrar com sua técnica, suas pretendidas democracias e suas modalidades repressivas tão refinadas que atuam em forma subliminar. Um mundo envelhecido e sem futuro, sem dúvida.

 
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ALQUIMIA

 

Os Quatro Elementos (2). Os quatro elementos, ou melhor, os quatro princípios que eles simbolizam (que constituem qualquer possibilidade de manifestação e, portanto, a de toda matéria, posto que esta é a combinação desses princípios ou elementos em rotação, alternando-os uns com os outros; os que são apenas a emanação de um mesmo princípio criador universal que toma diferentes modos ou formas designadas por distintos nomes) chamam-se, como já bem sabe o estudante do Agartha, fogo, ar, água e terra. O fogo simboliza o princípio radiante que é o mais alto de todos. Na Árvore da Vida corresponderia a Atsiluth, ao ontológico, ou seja, ao Ser e ao Espírito. É a primeira possibilidade da matéria, o hálito espermático do enxofre capaz de fecundar a potência mercurial, a penetração pela palavra, ou seja, a luz pura simbolizada por este princípio radiante, materializado no que significa o ígneo, do qual o fogo é o emblema. O seguinte elemento, ou estado da matéria, é o ar, ou energia refrigerante e sutil, correspondente à leveza e instabilidade do emocional, ao plano de Beriyah, à primeira construção do cosmogônico, à sublimação do fluídico, à transmissão de toda possibilidade, ao sopro do ar como causador da generosidade das chuvas e da geração vegetal, e também à alma superior, a que está por cima da superfície das águas. O terceiro elemento é a água, gás condensado, ou energia fluídica, capaz, como já se disse, de gerar, mas também de corroer. Toda matéria é abrandada pela água, que igualmente sempre encontra um leito e que é capaz de adaptar-se à forma que lhe toque. Corresponde ao plano de Yetsirah e ao perigoso e atrativo psiquismo inferior; às belas e às artes. Também a uma condensação do aéreo e, portanto, a uma progressiva solidificação, a uma transformação daquele princípio radiante, daquela primeira emanação que se expressou por um sopro que agora, ao se coagular, apresenta-se em estado líquido. O último elemento é a terra, que é o receptáculo e ao mesmo tempo contém em seu seio outros princípios, elementos, ou estados da matéria, e é a energia solidificada dessa matéria, o summum de sua densidade e de suas possibilidades de concreção. Corresponde ao plano do Asiyah, a grande mãe, à potência do ato permanente, ao passivo em contínuo movimento, à última manifestação da perfeição universal, espelho da perfeição de seu criador.

Há um quinto elemento que é o éter, ao qual se está acostumado a simbolizar no centro de uma roda da qual irradiam os outros quatro princípios, e ao redor do qual giram. É pois sua origem para o qual constantemente retornam e a oculta raiz de tudo, um “motor imóvel” mais relacionado com o Não Ser que com o Ser, aparentado com o Ain e En Soph: com o autenticamente metafísico, o invisível, o inexprimível, o verdadeiramente desconhecido, o que está por cima da coroa, que ainda apóia sobre a cabeça, emblema do corpo mineral.

Éter, o quinto elemento.

Estes quatro elementos estão constituídos pelos três princípios alquímicos: o enxofre, o mercúrio e o sal, que se interagem constantemente, como por sua vez o fazem estes elementos entre eles. Houve a intenção de se lhes comparar com uma roda dentro de outra roda, ou como uma roda que fixa doze possibilidades (3 x 4), o zodíaco (ver Módulo II, título N.º 98). Estes três princípios, como sabemos, estão presentes em toda “matéria” ou energia, apresente-se essa energia em estado radiante, gasoso, fluídico, ou de maneira sólida. Estes três princípios podem ser associados com o Osíris (+), Ísis (-), e Hórus (N), filho de ambos que, portanto, contém parte dos dois, aos quais deve sua existência. Mas sobretudo temos que vinculá-los com a Árvore da Vida e suas três colunas, que se vão solidificando em quatro etapas sucessivas coexistindo, entretanto, em qualquer matéria, como os quatro planos ou mundos do Árvore da Vida coexistem entre si.

Arvore da Vida e os Quatro Elementos

Devemos esclarecer que tanto no trabalho hermético, quanto na Alquimia instrumental, o trabalho interno é invertido com relação às emanações criativas. Está contra a corrente, e terá que remontar o rio até suas fontes. Por isso é que se fala precisamente de um trabalho. A matéria física tem que se descartar e sutilizar, do opaco ao transparente.

 
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NOTA: RECORDAÇÃO, CENTRO E PERIFERIA

 

O “antropomorfo”, como qualquer expressão do mundo acessível aos sentidos, não tem nenhuma vantagem especial que justifique a prepotência com a qual o homem moderno visualiza seu status no mundo, que não é outro senão o que recria com sua atitude. Mas pelo ao contrário, a insuficiência crônica que lhe faz sobrevalorizar o visível e sensacional (sensação) sobre o invisível e significante –se é que por algum momento considera este último– é o próprio expediente que fecha a porta à possibilidade regeneradora implícita na lembrança do sagrado.

Esse mesmo gesto interno que o encerra nos limites do individual - particular - literal, sustentado pelo esquecimento cotidiano que o faz mecânico, oculta seu direito de filiação e não permite que o mundo, do qual ele pode ser centro, manifeste-se-lhe como uma mandala apta para lhe revelar sua identidade primordial e intemporal.

Simultaneamente, a multiplicidade dos aspectos egóticos progride indefinidamente, como é próprio do mundo da quantidade.

Entretanto, o homem primordial, inapreensível pela história, segue sendo ele em cada uma das imagens simbólicas (que nunca foram vãs) dos filhos póstumos, nascidos à individualidade nessa dimensão obscura do ciclo na qual o homem, desligado de suas origens míticas que o aparentam com seus verdadeiros ancestrais, é lançado, pela própria natureza das coisas, à periferia da roda, ao mais denso e relativo, sendo vítima, como ser humano caído, de tudo aquilo que poderia e deveria estar nomeando, conhecendo em sua fonte primeira.

Agora, quando o indivíduo, talvez graças a uma curiosidade profunda, ou a uma melancolia ainda lúcida, permite-se a lembrança de um passado prototípico, quer dizer, de uma origem capaz de ser origem de todas as coisas, pode verificar que não está sozinho, ainda que exista algo que apenas ele mesmo poderá realizar, escutando as vozes que só se ouvem no silêncio, também há uma verdadeira família do espírito, conhecida não só do passado mas também do futuro, posto que suas vozes trazem a memória do que sempre excedeu os tempos históricos.

Esses reais ancestrais no domínio do conhecimento, ou seja, do verdadeiro ser, são, pelo ensino que formulam, a manifestação, variada em aspectos, única em essência, do motor primitivo que, como professor arquetípico e secreto, fecunda todos os tempos, dos quais é sempre centro.

A aspiração amorosa do transcendente devolve ao mundo, em forma imanente, a presença do não-dual, pela qual é regenerado o Livro da Vida, obra que o espírito realiza ao reconhecer-se no que sempre o esteve revelando.

Em outros termos, a reunião do disperso não ocorre só no mundo histórico e geográfico do homem, por sua remissão ao arquetípico; o Coração do Mundo, ou o que aparece como zênite para um estado do ser como o humano, não tem mais aspectos separadores que os projetados desde determinado estado de existência. Em si não é a presença real do divino. É evidente que o poder vivê-lo assim tem muito que ver com o anonimato verdadeiro, interno sobretudo, no qual o Si-mesmo não precisa adornar-se com pronomes pessoais.

O mundo aparentemente já solidificado e terminado, apto para o consumo entrevisto pelo cárcere da mente, resultado de uma árvore sem raízes, destruído em um gesto de apropriação típico do ego, poderá se endireitar de novo na lembrança efetiva daqueles que, graças ao sacrifício reiterado no Nome do que nunca será acessível aos sentidos, terão recuperado o “sentido da eternidade”, o qual redime qualquer ciclo, que só do ponto de vista “profano” aparece como abandonado a si mesmo.

 
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OS ASPECTOS DA ALMA

 

Os graus da alma humana, ou dos planos de consciência nos quais se manifestam, são três, em correspondência com os mundos da Árvore Sefirótica, e têm portanto três designações: nefesh, para o hálito vital; ruah, para a alma interior; e neshamah, para o espírito.

É muito importante recalcar que para a Cabala os três planos estão compreendidos um dentro do outro, mas por sua vez têm seus próprios nomes ou domicílios.

No trabalho hermético, a energia motora desperta, ou melhor, é despertada, e se for bem conduzida (com humildade, paciência e verdade) será capaz de estimular a nefesh, que por sua vez nos poderá transferir a ruah, ao mundo do psiquismo superior, ao ponto de inflamá-lo, em cujo caso é muito possível que nos abra a porta de neshamah, o espírito puro.

Daremos a seguir estas correspondências, representadas na Árvore da Vida.


Os aspectos da alma

 
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AS CASTAS

 

Um dos temas menos compreendidos entre as concepções tradicionais é o das castas devido à confusão que o mundo moderno (nascido no Renascimento, confirmado nos séculos XVII e XVIII e efetivado no XIX e XX) projetou sobre este assunto, confundindo-o com suas próprias problemáticas, suas revoluções políticas e econômicas, suas divisões referentes às classes sociais (verdadeiros tabus) e posteriormente o enfrentamento destas e portanto a ruptura do organismo nacional e internacional.

Trataremos de esclarecer algo do tema à luz do que o leitor já sabe sobre o pensamento tradicional. Embora antes de abordar este equívoco, devem ser resolvidas certas dúvidas e sentar-se algumas bases necessárias à clarificação:

a) Nada tem que ver o tema das castas com a divisão contemporânea referente às classes sociais, motivo pelo qual o aspirante ao Conhecimento, ainda filho de seu condicionamento histórico, não tem em sua bagagem de imagens nada parecido que possa tomar como ponto de referência; aconselha-se, portanto, não extrapolar informações e menos ainda pretender julgar com elementos exclusivamente contemporâneos, aos que se supõem universais, a sociedades pretéritas das quais tudo se ignora.
  Para pôr um só exemplo, diremos que os homens e mulheres mais poderosos e de mais status da atualidade, presidentes, primeiros ministros, líderes, e até reis e nobres, podem ser considerados de uma perspectiva tradicional, ou seja espiritual, como os integrantes da casta mais baixa de seres jamais conhecida neste ciclo humano de existência.
b) A divisão em quatro castas não é um fato arbitrário ou casual, mas sim está em correspondência com a ordem natural das coisas e com a divisão quaternária de qualquer manifestação. É, pois, uma realidade de ordem cosmológica verificável em qualquer sociedade e/ou cultura.
c) Aos efeitos deste título utilizaremos a terminologia hindu para nos referir ao assunto por ser a mais clara e conhecida, a que agrupa os homens em quatro conjuntos denominados Brâhmanes, Kshatriyas, Vaishyas e Shûdras. O primeiro corresponde ao estado sacerdotal ou sapiencial. O segundo ao guerreiro e a nobreza; o terceiro aos artesãos, comerciantes e administradores, e o último aos servos. Os nascidos nos três primeiros podem renascer na Suprema Identidade, podem ser iniciados nos mistérios; os que pertencem por nascimento ao outro estamento, ou casta, estão destinados à reencarnação na roda das existências, ainda que sejam milionários, chefes políticos, artistas de êxito, ou talvez precisamente por isso, tomando devida conta da degradação do mundo em que vivemos. Quer se chamar a atenção de que esta separação em castas, ou em estados, não só se apresenta na tradição hindu, mas também é clara na China (e em todo o extremo oriente e também no oriente médio), na América pré-colombiana, e inclusive em culturas tribais consideradas tão “primitivas” como a África negra. Na organização social da Idade Média ocidental é evidente, herdada não só das concepções cristãs (o Cristo Rei por exemplo), mas também das antigas culturas nórdicas e celtas, e deste modo de egípcios, caldeus, gregos e romanos. Nos hebreus é nítida entre os reis-sacerdotes (ou melhor sacerdotes-reis) e o séqüito escalonado de suas cortes.

Seguidamente ilustraremos esta concepção com o símbolo do círculo, ou da circularidade, muito conhecido por nossos leitores que já trabalharam bastante com ele.

As Castas

Desde já devemos dizer que nesta representação também cabem todas as relações ou especulações que já fizemos dela, tal qual se sobrepõem os distintos significados ou leituras do símbolo.

Agora a desenvolveremos na Árvore da Vida:

As Castas - Arvore da Vida

Também neste caso, a divisão em castas (expressas aqui com a terminologia hindu) deve ficar em relação com tudo o que temos visto do modelo sefirótico.

O predomínio de tal ou qual casta deve ficar em relação com o ciclo e o tempo histórico por um lado; pelo outro com a hierarquização ou leitura de níveis, ou graus de consciência, presente em qualquer realidade.

Para finalizar, queremos fazer referência a uma quinta casta: Hamsa. Esta é na verdade uma não casta e deve ser colocada acima da Árvore da Vida. Corresponde aos seres não condicionados ou, os que tendo sido condicionados pelo nascimento, foram liberados de sua determinação. Estes iniciados são chamados ativarna, utilizando sempre a terminologia hindu.

 
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CIÊNCIA

 

O que se entende hoje por ciência –a ciência profana– tem também uma origem sagrada (como todas as Artes Liberais) que se foi degradando, desde seus começos, onde a observação dos fenômenos naturais revelava o funcionamento da grande máquina do mundo, manifestada pelas grandes estruturas da cosmogonia, que simbolizava, em última instância, o que estava além dela. Ou seja, às leis naturais como signos e arquétipos do sobrenatural e como seu selo nas coisas e nos seres, incluído o humano, como o fazia a alquimia em virtude da correspondência entre macro e microcosmo.

E é digno de nota que autores como Tycho Brahe, Kepler, Newton (sobretudo este último), e um longo “etc.”, vivem seus trabalhos individuais como diretamente ligados ao Universal, em busca do Conhecimento, aventurando-se ao limite de suas possibilidades intelectuais inseridas em um contexto metafísico, como autênticos hermetistas.

Em termos gerais, do Renascimento, o mundo atual materializou completamente suas suposições e se foi solidificando cada vez mais em razão de acontecimentos cíclicos, e isto coincide com a aparição da ciência moderna, ou ciência profana. Porém, os fundadores desta ciência jamais negaram seus interesses sagrados. Bem pelo contrário, que poderia chamar-se seu mais longínquo antecedente medieval, Roger Bacon, considerava os fatos experimentais como formas visíveis de forças invisíveis –o que fundamenta à analogia e portanto à teurgia– e haveria que se lançar um olhar sobre sua obra para notar seus interesses. Ou fixar-se no já chamado Newton, que investia mais tempo e punha maior interesse em suas investigações bíblicas que em suas buscas propriamente "científicas". Sua lei da gravidade nos ilustra sobre as correspondências e portanto a respeito da magia simpática, como ele sabia, embora preferiu emitir sua teoria em termos mecânicos.

 
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CIÊNCIA  I

 

Um conceito linear do universo, do tempo e do espaço faz com que estes sejam vividos de uma maneira rígida e fixa, em acordo com a literalidade de um pensamento só capaz de vislumbrar o mais imediato do que percebem os sentidos. Na época atual, a ciência tomou formas quase exclusivas de medição quantitativa, reduzindo os problemas científicos a meras estatísticas, o que equivale a abandonar a busca da essência e as causas dos fenômenos –de qualquer natureza que sejam– pela comodidade de sua mera descrição e seus efeitos. Desgraçadamente, esta forma de pensar invalida a ciência oficial que, empiricamente, enquadra as coisas por suas características mais superficiais sem contar, tampouco, os fatores de mudança permanente aos quais está sujeita qualquer manifestação, e considera o homem contemporâneo, completamente condicionado por seu meio e ideologia, como um modelo universal válido para ser aplicado em toda circunstância. O mesmo, na realidade, faz com qualquer fenômeno, seja este subatômico ou estelar, e termina mecanizando sua visão da vida a tal ponto que é incapaz de distinguir entre a teoria e o fenômeno em si. Já dissemos que esta pretendida ciência oficial não está de acordo com as últimas investigações científicas, nascidas muitas delas a partir das teorias do Einstein, mas estas ainda não puderam transformar o esquema oficial (ver Módulo I, título N.º 77).

O universo se encontra em permanente movimento e constantemente se contraem e expandem sistemas inteiros de estrelas que configuram galáxias e planetas que, tal qual as partículas subatômicas, formam diferentes sistemas alternativos a velocidades supersônicas. Isto em perfeita coordenação cíclica e rítmica com todos os elementos que compõem este universo vivo e em perpétua expansão.

Assim, em nossa ignorância, os homens vão como aqueles burros aos quais se lhes sustenta, por cima e diante de suas cabeças, uma vara na qual se pendura uma cenoura, o que faz com que a besta caminhe e corra com o afã de procurar seu alimento sem que possa consegui-lo.

A via Láctea é um imenso aro de gases e estrelas que gira perpetuamente sobre nossas cabeças como uma roda. A matéria física tampouco é inerte e passiva, mas constantemente vibra em uma ondulante dança, cujos padrões de movimento estão dados pelas estruturas moleculares, atômicas e nucleares.

Tudo isto entranha um segredo cuja revelação é a origem do conjunto. Qualquer obra fala de seu criador se não houver diferença entre o autor e a obra. A manifestação é a assinatura de Deus e eis a suma importância da Ciência, cujo ponto de partida é a experiência, que igualmente constitui o fim último do Conhecimento. Do visível ao invisível, por mediação da autêntica ciência.

 

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