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MUSAS

 

Para todo povo há entidades intermediárias, às vezes são os próprios deuses, outras semideuses. As Musas, habitantes do Olimpo, são deusas.

Filhas de Zeus e Mnemósine, sua quinta esposa, com a qual se uniu sob a aparência de um pastor, foram engendradas em nove noites distintas, longe dos demais imortais, com o objeto de que tivesse quem celebrasse a vitória dos Olímpicos sobre os Titãs.

Deusas da Memória (do céu) e da inspiração poética, atribui-se-lhes o poder de dar os nomes convenientes a todos os seres. Guardiãs do oráculo de Delfos , dizem "o que é, o que será e o que foi".

Ainda que tenham nascido no morro Pierio, e ainda que visitem o Olimpo, onde alegram as festas dos imortais com seus cantos com que fazem resplandescer o palácio de seu pai, gostam de se reunir no cume do monte Helicão, de onde se aproximam na noite até a morada dos homens, que podem ouvir assim, na quietude, a melodia de suas vozes. Elas comunicam também aos olímpicos os males e sofrimentos destes, o canto de cuja criação é uma alegria para Zeus.

Estas entidades femininas, capazes de tomar indefinidas formas, e de não as tomar, e de revelar aos homens –se assim elas o desejarem–, seja através da harmonia daquelas, ou mediante o ritmo e o número, ou diretamente de sua própria voz, os mistérios da geração dos deuses, da ordem da Cosmogonia, das façanhas dos heróis em procura do céu e da cosmificação da terra, têm o poder de transformar a realidade, pois a audição de seus cantos faz do sensível símbolo da harmonia da Alma do mundo, manifestação e imagem do deus polar, Apolo.

Elas unem o homem com o sagrado porque estão diretamente vinculadas com o segredo e a harmonia da Criação (Cosmogonia) que revelam na alma humana, onde a reproduzem (poiésis = criação), e que conduzem assim ao pé do eixo que une os mundos, simbolizado na fonte, na pedra, na azinheira1, que aparecem no começo do canto de Hesíodo, a Teogonia. Como no Museu, onde se acham os produtos daquela audição e, portanto, da Memória, ao abrir um livro inspirado se abre também seu templo, ou mansão.

Ainda que apareçam como virgens, algumas tiveram filhos com deuses e homens; no entanto os destinos desta descendência assinala como o verdadeiro fim a geração espiritual, supracósmica, às vezes de forma trágica, como é o caso de Lino, filho de Urânia e de um mortal, ou, segundo alguns, de Apolo e Calíope –ou Terpsícore–, a quem este matou ao ser desafiado no canto; outras, como exclusiva geração do amor, como o de Himeneo, nascido da união de Apolo e Calíope.

Sendo ao começo três, quando nos tempos arcaicos, seu número ficou fixado em nove segundo a Teogonia de Hesíodo, a quem elas mesmas a revelaram, e seus próprios nomes estão unidos a sua função:

Clío: que preside a História, e que canta a "glória" dos homens e a "celebração" dos deuses, sendo seus atributos a trombeta heróica e a clepsidra.

Eutherpe: "a que sabe agradar", e que preside a música de flauta e outros instrumentos de sopro.

Thalía: a comédia, "a que traz flores", ou "a que floresce", nome também de uma das três Graças, representada com a máscara da comédia e o bastão de pastor.

Melpómene: a tragédia, a que canta "o que merece ser cantado", representada com a máscara trágica e a clava de Hércules.

Terpsícore: a música em geral e a dança, a que "ama a dança", cujo atributo é a cítara.

Erato: a poesia lírica e os cantos sagrados, acompanhada pela lira e o arco, cujo nome procede de Eros, o primeiro deus que apareceu após Gea, nascida de Caos e geradora dos demais deuses.

Polimnia: a arte mímica, a que inspira a união dos “múltiplos hinos", e se vinculam a ela a retórica, a eloqüência, a persuasão, representando-a com um dedo nos lábios.

Urânia: a "celeste", a astronomia, a contemplação da harmonia do céu, representada com um trípode junto a ela.

Calíope: a poesia épica, a de voz "mais bela" ou "verdadeira", a que reproduz a imagem do som primordial que se ouve no centro de todo ser, e que só depois de determinado estádio do ciclo se acha na cúspide da Montanha (Helicão), que deve ascender aquele que realiza o caminho de retorno, haja vista que o Olimpo é o lugar dos deuses imortais (os estados supra-individuais do ser), montanha celeste à qual elas mesmas se dirigem desde a anterior, após ter presenteado os homens, enquanto deixam ouvir depois de si um "encantador som que surge de seus passos".


1
N.T. – Azinheira = Quercus ilex - Árvore de até 27 metros, de copa ovóide ou arredondada. Ritidoma não suberoso e escamoso-gretado. Ramos principais eretos. Raminhos estreitos e tomentosos. Folhas persistentes, orbiculares. As juvenis são serradas, as adultas são inteiras. Bolotas de maturação anual, aquénios e cúpula, com escamas imbricadas mais ou menos aplicadas e tomentosas.

 
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MAGIA

 

Falaremos da palavra magia e de seus possíveis equívocos. A vida inteira, que se está manifestando em todas as ordens neste mesmo momento, é desta forma uma função permanente de magia, ou seja, que a realidade na qual vivemos é mágica. Nesse mesmo sentido nossa atuação nela também o é, de modo natural, e a participação do homem neste processo é parte integrante do próprio processo. A vida e nossa existência se estão fazendo permanentemente e nós podemos participar ou influenciar nela de acordo a determinadas pautas, relacionadas com certos ritos especiais. Pois no caso do rito sucede o mesmo que com o símbolo: conquanto toda manifestação é simbólica e igualmente a vida um perpétuo rito, no entanto existem certos símbolos e ritos particulares que em forma mágica atuam sobre nós, sempre que o sujeito que pratique determinados exercícios se encontre no estado adequado para os realizar e sejam sensatas e sãs suas intenções. A Tradição Hermética trabalha constantemente com símbolos e também utiliza determinadas "cerimônias", para vivificar esses símbolos trazendo-os assim ao plano da ação. Determinados "métodos", gestos ou formas de trabalho, capazes de promover em nós, e em nosso meio, determinadas situações e energias aptas para serem moldadas por uma vontade lúcida e retamente ordenada na triunidade Verdade-Beleza-Bem.

 
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TROPEÇOS E DIFICULDADES

 

Sem dúvida o leitor que nos segue atenciosamente deve ter encontrado ao longo deste curso variadas e diversas dificuldades. Isso é próprio de qualquer aprendizagem, e se agrava numa deste tipo, aonde em algumas ocasiões se vai contra muitas das formas de ver próprias do homem contemporâneo e da sociedade que este formou (e na que nós criamos), que não crê na realidade do Espírito, nem na de outras possibilidades da criação e do homem, salvo naquelas estritamente ligadas com a comprovação estatística, a análise empírica, e com a manifestação exclusivamente visível e fenomênica. Neste sentido, nosso interesse por temas ocultos e espirituais pode nos criar algumas dificuldades com respeito ao meio, que não sempre compreenderá nossa vocação, ou nos crerá enganados e até defeituosos de razão. Isto vem adicionar-se a nossos próprios tropeços internos e à aparição de dúvidas, incapacidades, paixões latentes e desconhecidas que surgem, vacilações, fobias, manias, etc., que jazem no fundo de si mesmo e que começam a despertar –na sábia economia do Universo– a par que nos alumiam outras tantas áreas com a luz que provém do Conhecimento. Os símbolos revelam e velam ao mesmo tempo.

 
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EXERCÍCIO RESPIRATÓRIO

 

Seguindo com nossa série de práticas respiratórias, trataremos de ir interiorizando em forma inconsciente, o segundo plano cabalístico. Sente-se novamente no centro de sua habitação. Agora você imagina que é Hesed, a sefirah N° 4. Em verdade você é tal qual uma árvore, neste caso a Árvore da Vida, que extrai seu corpo do alimento que o ar lhe brinda. Aspira, pois, do plano dos Princípios Eternos, seu nutriente vital, e conforma com ele seu próprio corpo, ou seja, o de Hesed. Quando exala sua energia, passa a Gueburah, conformando-o. Logo você mesmo é Gueburah, que inala a força de Hesed, a retém e a expele para Tifereth, dando-lhe existência dessa maneira. Agora você é Tifereth, a síntese de toda a luz incriada da Árvore da Vida e conjuga toda a possibilidade da manifestação Você e a fumaça vermelha esplendente são uma mesma e única coisa. Ao inalar a energia sucessiva do plano ou mundo de Atsiluth, você concentra toda a energia do plano da Criação arquetípica, o que tem de sustentar a ordem em que se produzem as formas invisíveis.

 
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DANÇA

 

Desde a mais remota Antigüidade, e de maneira unânime em todos os povos, aparece a dança como expressão do sentir do homem, e como um ato natural nele. Unida sempre à música e ao canto, como uma trilogia rítmica indissolúvel, ela constitui um gesto espontâneo que se articula com o ritmo universal. Este se colocar "no ritmo", este "ritmar" com o Cosmo, é a essência e a origem da dança, cujas coreografias e movimentos circulares se inspiram na ordem dos planetas e seus efeitos e correspondências na manifestação. O homem, o dançarino, é o intermediário entre céu e terra, e seus passos repetem e representam a Cosmogonia primordial à qual imediatamente assinala um caráter repetitivo e ritual. Graças a estes gestos e figuras ideais, ou "patronos" simbólicos, e à total entrega à dança, o ser humano se vê transportado a outro mundo, a outro espaço mental, onde sua participação ativa no presente através do movimento faz com que se conecte com uma só e única onda, ou vibração, compartilhada pela criação inteira. Quando isto é assim, é que se compreendeu o sentido mágico da vida, da qual é parte.

 
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A NAVE

 

A nave, por sua estrutura, aparece como uma imagem simbólica do Cosmo. Seu mastro central representa o Eixo do mundo, que vai do zênite ao nadir, e a gávea, que em muitas ocasiões o rodeia circularmente por cima, equivale ao "olho do domo" das catedrais e de todo edifício construído seguindo o mesmo modelo cósmico. Advirtamos que o espaço interior do templo cristão também se denomina nave, sendo esta precisamente um dos emblemas dos pontífices católicos, também chamados "pastor e nauta". Desta forma, a nave está orientada segundo os quatro pontos cardeais: a direção proa-popa assinala o eixo vertical norte-sul, e a direção estibordo-bombordo o eixo horizontal este-oeste. É também uma imagem da Arca boiando sobre a superfície das Águas Inferiores, contendo os germes de um novo ciclo, pelo que também é relacionada com a copa, a matriz, e por extensão com o coração e a caverna.

Lembraremos que o antigo lema dos marinheiros: "Navegar é preciso, viver não é preciso", ilustra-nos perfeitamente acerca do sentido profundo da navegação, do peregrinar pelas Águas Inferiores em busca do Centro, simbolizado pela ilha ou continente mítico das origens. Efetivamente, a vida não tem nenhum sentido, nenhuma “orientação”, se ela não está concebida como uma aventura em busca do Conhecimento, para o qual é necessário, como se diz no I-Ching, atravessar as "Grandes Águas", ou o "Mar das paixões” inerentes à individualidade humana, como se afirma no hinduísmo, e em geral em todas as tradições.

 
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AS COLUNAS E A PORTA

 

As colunas são evidentemente símbolos do eixo. Estão expressando a idéia de ascensão vertical que une a Terra e o Céu. Quando se tratam de duas colunas rematadas em sua parte superior por um arco ou cimbre, este último simboliza ao Céu, enquanto o retângulo que formam as colunas simboliza a Terra. A porta é também uma esquematização da estrutura completa do templo, especialmente visível nos pórticos das catedrais e mosteiros cristãos. Esse semicírculo do arco simbolizando o Céu se encontra no coro do altar ou abside, que é a projeção sobre o plano de base horizontal da cúpula ou abóbada. E o resto do templo, da porta ao altar, representa a Terra.

A porta (emoldurada pelas duas colunas), com sua dupla função de separar e comunicar dois espaços (o espaço profano do espaço sagrado), está em relação com os ritos de "trânsito" ou de "passagem", ligados por sua vez com os mistérios da Iniciação, que constituem os mistérios da vida e da morte. Trata-se de um simbolismo primordial que se encontra, sob distintas formas, em todas as tradições.

As duas colunas são um símbolo da dupla corrente de energia cósmica, ativa-passiva, masculina-feminina, rigor e graça, que articula o processo da criação universal em todas suas manifestações. Traspassar o umbral do Templo-Cosmo é ser penetrado por esta dupla energia que convenientemente harmonizada nos conduzirá, através de uma viagem regenerativa e por etapas, à saída do mesmo por outra porta, desta vez pequena (a "porta estreita" do Evangelho, ou "olho da agulha" como se diz na tradição hindu), situada na "chave de abóbada", e, portanto, na sumidade da cúpula. "Eu sou a Porta", diz Jesus Cristo, "e quem por mim passa vai ao Pai". A porta de entrada ao templo, e a que está simbolicamente na sumidade da cúpula, são respectivamente, e utilizando a simbologia da Antigüidade greco-latina, a "porta dos homens” e a ”porta dos deuses", as duas portas zodiacais de Câncer e Capricórnio. Pela "porta dos homens", há o nascimento ou a entrada no Cosmo; pela "porta dos deuses", deixa-se ele, acessando à realidade supracósmica, além do Ser, não condicionada por nenhuma lei espaço-temporal, e da qual nada pode se dizer.

Por sua relação com a caverna iniciática, o templo é semelhante ao corpo da Grande Mãe, sob seu duplo aspecto telúrico e cósmico. As duas colunas são também as duas pernas da Mãe parturiente, em cuja matriz o neófito, que vem do mundo das "trevas profanas", morre para sua condição anterior, renascendo na verdadeira Vida. Trata-se naturalmente de uma iluminação na esfera da alma, do nascimento do Homem Novo que habita em cada um de nós.

Pela Iniciação, o Cosmo, com todos seus mundos e planos, aparece como a autêntica casa ou morada do homem, na qual já não se sente estranho ou alheio, pois morreu para o velho homem, e se reintegrou ao pulsar do ritmo universal, do qual toma parte.

 
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CABALA

 

Anteriormente, demos a idéia do simbolismo das colunas e da porta. Na continuação, queremos transpor este simbolismo para nosso diagrama da Árvore Sefirótica, ou Árvore da Vida cabalística:


Cabala

 
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EXERCÍCIO RESPIRATÓRIO

 

Como nas duas lições anteriores, referentes aos exercícios respiratórios do plano ou mundo de Atsiluth e do de Beriyah, respectivamente, começamos tomando os cuidados convenientes para nossa prática. Agora tomemos nosso alento diretamente da fonte da luz e do calor: Tifereth, o Sol. Este, por sua vez a toma do espaço infinito e a emana diretamente para nós. Agora estamos localizados em Netsah, a sefirah N° 7, e aspiramos essa energia que nos inunda e se faz evidente na zona baixa de nosso plexo solar. Começamos a expirá-la suavemente para Hod, a sefirah N° 8, percebendo que o vermelho brilhante se faz mais intenso, bem como a sensação de “corporalidade" em todo o exercício. Retemos toda essa força e a exalamos para Yesod, a sefirah N° 9, e notamos como desce e se vai coagulando, até ficar estática, sinal de que a transmissão se efetuou. A copa ficou prenhe de frutos, e a receptividade de Yesod passa agora a cumprir um papel generativo e fecundador. Expelimos então nosso alento para o plano ou mundo de Asiyah, para a Concreção material, fruto e manifestação sensível das emanações, e efetivização das energias de toda a Árvore da Vida cabalística.

 
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MITOLOGIA CABALISTICA

 

Todos os povos, desde a mais remota Antigüidade, conservaram a realidade do mito como um componente essencial de sua concepção do mundo, de sua Cosmogonia e Teogonia. Por muito longe que nos remontemos na história das civilizações tradicionais, sempre encontramos nelas uma rica profusão de relatos e lendas relacionados com seres míticos, que servem de comunicação entre a Terra e o Céu, entre o de baixo e o de cima. A tradição cabalística também conserva um grande número de gestas míticas vinculadas com o descenso à Terra das energias celestes, angélicas ou espirituais. Assim, na Cabala se acha com freqüência o nome de Metatron, que se identifica com o arcanjo Miguel, também chamado o "Príncipe das Milícias Celestes".

A Cabala considera o Metatron como o princípio ativo e espiritual de Kether, a Unidade, que com as tropas divinas sob seu comando (as sefiroth de construção cósmica) empreendem a luta contra as potências do mal e das trevas (que constituem seu próprio reflexo escuro e invertido, as "cascas", "escórias" ou keliphoth) dissipando a dúvida e a ignorância no coração do homem, fecundando-o, simultaneamente a essa mesma ação, com a influência espiritual que transmitem. Em algumas representações da iconografia cristã e Hermética pode se ver este combate mítico nas figuras do arcanjo Miguel e das hostes angélicas, lutando contra os demônios e Satã, o "príncipe deste mundo", segundo a conhecida expressão evangélica.

Com o mesmo significado, mas a nível humano, encontramos o cavaleiro São Jorge combatendo o Dragão terrestre, símbolo das paixões inferiores e do "caos". Precisamente, a lança ou espada (símbolos do eixo) de São Jorge atravessando o corpo do monstro, sugere a "penetração" das idéias celestes, verticais e ordenadoras, em dito "caos". Esta variante do mito é análoga à luta que o homem acomete na busca do Conhecimento, o que lhe dá a possibilidade de viver um processo mítico idêntico ao dessas mesmas energias cósmicas e telúricas, celestes e infernais, em permanente luta e conciliação.

Relacionado em certo modo com as origens da Tradição Hermética, e intimamente vinculado com o que vimos dizendo, encontra-se o mito dos "anjos caídos", que igualmente é relatado no Gênesis bíblico. Considerado desde o ponto de vista da Ciência esotérica –que tende a resolver os opostos e, portanto, exclui, por insuficientes, o simplesmente moral e sentimental, bem como as leituras demasiado literais das coisas, que estão incluídas no ponto de vista simplesmente religioso e exotérico– a "queda dos anjos" representa, ante tudo, um símbolo do descenso das influências espirituais no seio da própria vida e da natureza humana.

Certos anjos caíram acesos pelo amor que professavam às filhas dos homens às quais, diz-se, "encontraram formosas e belas". De seu casamento, nasceram seres semidivinos (os antepassados míticos), que revelaram aos homens as ciências e as artes teúrgicas, mágicas e naturais, ou seja, todas aquelas disciplinas que, como já sabemos, integram os textos sagrados dos “Hermética” e do “Corpus Hermeticum”.

 
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A MONTANHA E A CAVERNA

 

A montanha, junto com a pedra (forma reduzida desta) e a árvore, com que se encontra associada, é um símbolo natural do "Eixo do Mundo". Por ser na realidade uma elevação ou protuberância da terra, a estrutura imaginal do homem sagrado vê na montanha um símbolo da sua própria natureza, que aspira verticalmente para o superior ou celeste. Em geral todas as montanhas têm esse significado, mas existem algumas que, devido a certas correspondências espaciais relacionadas com a topografia sagrada estão "carregadas" de influxos espirituais. Estas são as denominadas "Montanhas Santas" ou "sagradas", morada de entidades espirituais. Por isso, muitos templos e santuários (como é o caso, por exemplo, do Partenon grego) foram construídos nos cumes de determinadas montanhas, ou seja, ali onde a Terra parece tocar o Céu.

Assim a montanha, quanto a sua estrutura, é um arquétipo do templo, o que é especialmente visível nas pirâmides egípcias e pré-colombianas e nos zigurates babilônicos. Relacionado com isto, é significativo o fato de que Dante, na Divina Comédia, situe ao Paraíso Terrenal, ou Jardim do Éden (do qual todo templo é uma imagem simbólica), no cume de uma montanha, que é a "Montanha Polar", "Celeste" ou "Mítica", comum a muitos povos tradicionais, como é o caso do monte Meru entre os hindus, o Alborj entre os antigos persas, o Sinai e Moriah entre os hebreus, a montanha Qaf entre os árabes, ou o morro Urulu (ou ¨Ayers Rock¨) entre os aborígines australianos, etc. A vinculação da montanha com o Paraíso nos sugere seu caráter primordial, pois este, ou seu equivalente em qualquer tradição, é considerado como o começo ou origem mítica da humanidade (a "Idade de Ouro"), quando todos os homens sem exceção participavam do Conhecimento e da Verdade. O Paraíso era também a residência da Grande Tradição Universal, conservadora da doutrina e da sabedoria perene, e toda montanha sagrada, como o Éden, é o símbolo do Centro do Mundo. Mas a partir de certa época, e devido às condições cíclicas adversas, o Conhecimento deixou de pertencer à totalidade dos homens, ficando em posse tão só de umas minorias que, para o salvaguardar e o manter através dos tempos, criaram as culturas tradicionais, conformadas pelos ritos e símbolos sagrados. O Conhecimento se repregou no interior de si mesmo, no coração da montanha, ou seja, na caverna, um lugar que por sua situação está oculto e protegido.

Por tal motivo o mundo "supra-terrestre" gerou, em certo modo, o "mundo subterrâneo". Fez-se invisível. Ocultou-se, mas não desapareceu. A vacuidade escura da caverna substituiu à luminosidade da cúspide da montanha. A Verdade, que nos primeiros tempos era espalhada aos quatro ventos e estava na boca de todos, converteu-se num segredo só percebido no mais interno. A caverna (como o ovo) é também um símbolo do Cosmo, um "Centro do Mundo" igualmente à montanha. Porém, assim como nesta [a Verdade] se manifesta em todo seu desenvolvimento e amplitude, à vista de todos, na caverna, o Centro se mantém invisível, virtual e potencial. O templo é igualmente uma caverna, ainda que esta se encontra mais bem representada pela cripta, situada em muitas catedrais debaixo do Altar, ou seja, sobre o mesmo eixo perpendicular que parte da "chave de abóbada", ou seja, da sumidade. Na caverna sagrada se produzem as hierofanias e se celebram os mistérios da Iniciação, o mesmo que as "revelações" e "aparições" da divindade. Lembremos que Jesus Cristo nasce num estábulo, equivalente da caverna. Por outro lado, o mesmo esquema simbólico tradicional para representar a caverna é idêntico ao do coração e ao da copa, ou seja, um triângulo eqüilátero com o vértice para baixo, dando a imagem de um recipiente que recolhe os eflúvios espirituais. O símbolo geométrico da montanha é por sua vez um triângulo, mas com o vértice para cima.


Existe aqui uma aplicação deste símbolo, que completa o que se disse até agora, e é que como a caverna está no interior da montanha, podemos ver que a reunião de ambos conforma o símbolo já conhecido do "Selo de Salomão" ou "Estrela de David". Este é, como já sabemos, o símbolo da analogia, que faz que o de baixo seja complementar com o de cima e vice-versa. Portanto o triângulo invertido é um reflexo do outro, exatamente igual que o microcosmo é um reflexo do macrocosmo, ou que a realidade relativa do manifestado é um reflexo da Realidade Absoluta do imanifestado.

 
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O SÍMBOLO DA PEDRA

 

Entre os materiais de construção, o mais importante é naturalmente a pedra. Mas esta, como tudo o que forma parte do Templo, tinha para os construtores das civilizações tradicionais que utilizaram esse material (pois se sabe que antes dele se edificava com madeira), um sentido simbólico bem preciso, que é o que lhe dá toda sua importância desde o ponto de vista sagrado.

A pedra expressa dois aspectos bem distintos. Por um lado, e devido a sua tosquedade e arestas, simboliza a natureza grosseira e imperfeita do homem profano. Por outro, graças a sua solidez e estabilidade, reflete mais do que nenhuma outra coisa a presença imutável de Deus no seio da Criação. E isto é precisamente o que faz que uma determinada pedra seja venerada como sagrada. É o caso dos betylos-oráculos2, que eram geralmente aerólitos, ou pedras "descidas do céu", e associadas, portanto, com o raio e com a luz. Adicionaremos que "betylo" procede de Beith-El (que significa "Casa de Deus"), nome dado ao lugar onde Jacob repousou sua cabeça e teve o sonho no qual via descer e ascender anjos por uma escada que unia o Céu e a Terra. (Essa mesma palavra, Beith-El, converteu-se posteriormente em Beith-Lehem, ou Belém, a "Casa do Pão", e designou a cidade na qual devia nascer Cristo, o Verbo descido no seio da substância terrestre).

Por tal razão houve épocas e culturas onde se estava terminantemente proibido talhar as pedras destinadas a um culto especial, pois estas eram consideradas como a própria expressão da substância indiferenciada (a matéria prima) e virginal da natureza divina. Mas este não é o caso dos templos que, como as catedrais, precisam para sua solidez pedras completamente talhadas, esquadrejadas, polidas e trabalhadas com o martelo e o cinzel. A pedra já não expressará essa virgindade indiferenciada, mas o caos amorfo do profano que precisa ser ordenado pelas réguas e métodos da Arte. 

Ao polir a pedra bruta, o aprendiz construtor estava realizando um trabalho e um gesto ritual consigo mesmo. A pedra era ele mesmo, e a transformação desta em pedra talhada e cúbica simbolizava a transmutação qualitativa de todo seu ser.

2 N.T. – Betylo - Pedra sem lavrar, ou toscamente talhada, à qual rendiam culto os povos da antiguidade, considerando-a como a representação de uma divindade, ou como a própria divindade.

 
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EXERCÍCIO RESPIRATÓRIO

 

Pratique os exercícios aos que já está acostumado durante uns vinte minutos. Logo sinta como a energia sutil penetra suavemente por sua coroa (Kether) e desce agora até seu coração (Tifereth), expandindo-se logo para sua zona ventral e os genitais (Yesod). Sinta, ao ritmo de sua respiração, como as energias descem até Yesod e finalmente se concretizam no plano material (Malkhuth), e logo ascendem e retornam pelo mesmo caminho a sua origem e são expelidas para fora de Kether através de um processo evolutivo. Sua coluna vertebral é o eixo por onde começou a se enroscar a serpente Kundalini, que, situada na base de sua coluna vertebral, começa a se desenroscar; o que é o mesmo que o retorno das energias criativas a sua Origem.

 
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ARQUITETURA

 

A Arquitetura, ligada à arte da construção, nasce simultaneamente como uma necessidade material e uma necessidade espiritual. Como necessidade material, foi imperioso, num determinado momento da história, pôr-se a coberto e abrigado das intempéries meteorológicas e de toda classe de perigos e condições adversas. E como necessidade espiritual, porque toda edificação, quaisquer fossem os materiais e os modelos arquitetônicos utilizados, tinha e tem uma significação unida ao culto religioso e sagrado. Um exemplo deste é o próprio Templo ou Santuário, do qual já falamos, ainda que também estava, e está presente aonde ainda se conserva uma cultura tradicional, na própria moradia, na qual destaca o lar ou fogo central análogo ao Altar. Em ambos os casos a arte da construção se baseia na contemplação de um gesto divino primordial: a Criação do Mundo. O Cosmo físico, criação do divino Arquiteto, proporcionava ao arquiteto humano o modelo de sua própria morada. Céu e Terra constituem a parte superior e inferior do edifício. Neste sentido, sendo a realidade concreta do Cosmo uma manifestação dos mundos invisíveis, a construção da casa familiar e cultual deve cumprir uma função similar, ou seja, servir de recipiente e suporte às energias criadoras do Universo, plasmando-as na configuração de seu traçado e em cada uma de suas partes e elementos. E já vimos que essas energias se expressam simbolicamente por meio de módulos numéricos e geométricos, estreita e harmonicamente vinculados entre si. Catedrais e mosteiros, por exemplo, são verdadeiros compêndios da vida universal, onde estão representados na pedra os diversos reinos da natureza, do mundo intermediário, e do mundo espiritual ou angélico, em suma, o "Livro do Universo". Por isso os Mestres arquitetos e os operários a suas ordens, divididos em diversos graus, tivessem um conhecimento perfeito da Metafísica, a ontologia, a cosmologia e as ciências naturais. As próprias ferramentas e elementos utilizados para a edificação são simbólicos, além de práticos, e entre eles merecem ser destacados o compasso, o esquadro, o nível, o prumo, a régua, a colher de pedreiro, o martelo e o cinzel.

 
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A HIERARQUIA 

 

Um dos maiores erros do homem atual, filho da sociedade contemporânea, é acreditar numa suposta igualdade totalmente ausente na vida e na própria natureza, já que todos os "reinos" e espécies se encontram perfeitamente hierarquizados. Por este expediente igualitário se nega toda possibilidade de superação, já que se atribui aos demais a pequena mediocridade do meio que se vive e encarna, e as pessoais densidades e pesadelos que constituem a existência individual dos que integram uma sociedade dessacralizada. Projeta-se assim uma imagem rasteira, sem ter em conta nem por um momento a experiência, a sabedoria, a idade, os estudos e as viagens daqueles com os quais se pretende equiparar, numa comparação absurda que se produz pelo fato de "crer" numa "igualdade" que é tomada como um autêntico "bem" em si mesmo, e mesmo como um progresso cívico e democrático.

É comum ver em povos e províncias que às pessoas, que por algum motivo se destacam, trata-se de lhes "puxar o tapete”, ou de lhes “descer do pedestal”. Esta última imagem é muito plástica: há que fazer "baixar o nível" do outro quando não se pode ou não se quer ascender a seu nível.

Não há maior igualdade que aquela que temos os homens, a de albergar a deidade no interior de cada ser, possibilidade que levamos os seres humanos sem exceção e que constitui o que verdadeiramente une. Ou seja, a igualdade ante e no Ser Universal da qual todos os seres de alguma maneira somos partícipes, e a liberdade de conseguir a fusão nesse Ser Universal que deu ao ser particular uma Origem e um Destino comum.

 
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