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TARÔ |
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OS CICLOS E A HISTÓRIA |
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O processo histórico das civilizações e das culturas está assinalado em realidade pelas leis dos ciclos e dos ritmos que, como sabemos, são as mesmas que regem em todas as ordens da manifestação universal. O simples fato de comprovar que uma civilização, como todo ser, nasce, cresce, decai e morre, é um exemplo a mais, e bastante gráfico, de que esta segue e repete a seu nível correspondente a lei quaternária em que se fragmenta todo ciclo. Servindo-nos uma vez mais das analogias e correspondências simbólicas, podemos comprovar que os ciclos das civilizações estão todos compreendidos dentro de um ciclo maior que abrange o da existência completa da humanidade, que se divide em quatro períodos ou grandes idades, que os hindus chamam um Manvántara, e que compreende a Idade de Ouro, a Idade de Prata, a Idade de Bronze e a Idade de Ferro, segundo termos que tiramos da antigüidade grego-latina. Seguindo com a mesma lei analógica, os ciclos históricos estão inexoravelmente vinculados ao fluxo e vazante do tempo cósmico em sua perpétua recorrência. Neste sentido, as eras astrológicas, nas que um signo zodiacal domina com sua influência um determinado período histórico, verifica o que dizemos. Considerada globalmente, a história da humanidade nos apresenta como um imenso cenário ou cenário (o teatro do mundo) no qual se pode observar como povos inteiros aparecem e desaparecem obedecendo a uma lei inexorável. Igualmente podemos ver a história como um grande corpo (tal como o próprio cosmos) cujos órgãos, e o indefinido de células que o compõem, têm a missão de fazê-lo funcionar. E assim, como o corpo físico está animado por um coração que lhe insufla a vida, de igual maneira a existência e a própria razão de ser das sociedades humanas foram possíveis por terem albergado em seu interior o depósito sagrado do Conhecimento e da doutrina metafísica, que não é outra que a Ciência Sagrada. Sem a presença dos símbolos, ritos e mitos reveladores do supra-humano –e mediante os quais se pode escapar da recorrência cíclica dos nascimentos e mortes assinalados pelo Deus Tempo que a tudo abarca– a história careceria de sentido e seria tão somente um absurdo, pois lhe faltaria o mais essencial, que é o Espírito; ou sucederia uma mera formulação de dados e datas enquadrados em compartimentos estanques sem relação entre si, quando na verdade é justamente o contrário: uma poética onde fica impressa a alma de homens e de povos. Se o cosmos inteiro obedecer a um plano e a uma ordem que respondem aos desígnios divinos e nos quais tudo desempenha uma função e um destino específico, é óbvio que as civilizações e as culturas tradicionais participaram da realização e cumprimento desse plano, perpetuando-o em cada ciclo particular com suas formas e características próprias, avivando e mantendo assim o fogo inextinguível da Sabedoria das origens. Neste sentido existe necessariamente um fio de continuidade sutil e invisível entre todas as civilizações e especialmente entre aquelas que se manifestaram em uma mesma área geográfica ou continente. Quando uma civilização, ao esgotar suas possibilidades existenciais, está a ponto de perecer, outra, mais jovem e com elementos novos vem substituí-la, produzindo-se com freqüência uma espécie de osmose espiritual ou transferência dos princípios sagrados de uma para a outra. |
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JANO |
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Janus-Bifrons, deus romano, de origem assírio-babilônica, e que se encontra também em outras tradições muito arcaicas, olhe com seu rosto dual nas direções opostas do espaço e do tempo calendárico. Espacialmente, marca o eixo Norte-Sul; temporalmente, os solstícios de inverno e de verão. É pois um mediador entre céu e terra, enquanto faz corresponder ao céu com o Norte e, inversamente, à terra com o Sul. Igualmente, é a deidade que abre no hemisfério Norte a porta do ano no inverno –movimento ascendente do Sol– e a fecha no solstício de verão, quando o astro começa seu curso descendente. De um ponto de vista iniciático o solstício de verão corresponde à porta dos homens e constitui a entrada aos pequenos mistérios da antigüidade, enquanto que o de inverno se vincula com a porta dos deuses e os chamados grandes mistérios. Astrologicamente, o verão, associado ao meio dia, corresponde-se com o signo de Câncer, enquanto o inverno o faz com o de Capricórnio. O Natal cristão (urânica) celebra-se em 24 de Dezembro, e em 24 de Junho se festeja a noite de bruxas (ctônica). Nestas mesmas datas, na Maçonaria se recorda aos dois "São João", o que abre a história evangélica e o que recebe a mensagem testamentária.
Seu rosto central, invisível, está vinculado com o não-tempo, ou tempo primitivo das origens, e se corresponde no espacial e construtivo com o eixo de simetria, e portanto com uma via ou caminho de união, de permanente conjunção de opostos, o que explica que presidisse nos Collegia fabrorum, os grêmios e iniciações dos artistas e artesãos romanos. |
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SOBRE A GRAMÁTICA, DIALÉTICA E RETÓRICA: |
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Precedentemente, falamos sobre o tema das sete artes liberais. Então, dizíamos que ao Trivium (a tripla via) corresponde a Gramática, a Dialética e a Retórica, ou seja, as palavras, vozes e nomes das coisas e que no esoterismo cristão se assimilavam respectivamente às esferas da Lua, de Mercúrio e de Vênus. Para o Alfonso X, o sábio, a primeira destas ciências "limpa a língua gaga" para que fale de forma reta; a segunda "lima a ferrugem da falsidade"; a terceira "entalha a obra néscia e a compõe de formosuras". Igualmente, a primeira "dá ao homem o entendimento"; a segunda "induz-lhe na crença das coisas" (ou seja: na verdade); a terceira "admoesta e traz as outras pa acabar os feitos que elas querem" ou despertam. Do mesmo modo: "a primeira nos ensina a falar diretamente; a segunda, a ser úteis e agudos; a terceira a dizer admoestando e ordenadamente". Com respeito à Gramática, dizia Aristóteles que ela era "escrever o que se enuncia"; em todo caso, isto tem pouco a ver com o que hoje se entende por gramática. E está bem claro que ela existia antes que sua mera codificação, como é óbvio –para estabelecer uma similitude– que o direito existiu antes que as leis romanas. A pretendida ciência moderna inclui certas rigidezes que é preciso destruir; a gramática castelhana, tal qual a conhecemos, nasce no século XVIII e é contemporânea de Descartes e do racionalismo. Este problema vem de longe: Horácio afirmava que o uso é o árbitro e senhor das línguas e as normas um artifício auxiliar. Esta mesma crítica é válida a respeito da lógica, tomada como ciência, e sua assimilação, ora à dialética, ora à retórica, e pode se pensar com razão que este engano da mania classificatória vem do fundo da filosofia grega, em grande parte iniciado pelo próprio Aristóteles, o que deu lugar aos "sistemas" dos modernos (em especial depois do século "das luzes") e que desgraçadamente hoje se identificam com a "filosofia". |
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TARÔ |
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CABALA |
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A Cabala dá fundamental importância à aparente contradição entre a transcendência infinita de Deus e sua presença imanente na terra. Em sua transcendência, o Supremo não pode ser compreendido nem conhecido; sua imanência, sua criação deste mundo e sua habitação nele, é explicada pela Cabala, como estivemos vendo ao longo deste manual, por uma série de emanações sucessivas que constituem o cosmos e a Árvore da Vida Sefirótica, ou seja, os atributos divinos conformando o Universo. Mas essas emanações, ensina a Cabala, foram por sua vez originadas pela Tsim Tsum. Para fazer lugar à criação, Deus se retira e deixa um espaço descoberto, no qual brilha um pequeno ponto luminoso, a concentração da luz divina que fará possível a primeira emanação, Kether, e dali no mais, o fluxo permanente das emanações criativas e reveladoras. Esta é a teoria (no sentido etimológico do termo) da Tsim Tsum cabalística. Uma "contração" no espaço interno da deidade, que ao se retirar deixa um resíduo de si (reshimu), que se converte por dilatação em sua força expansiva e criadora, e as emanações que dela se desprendem são as que explicam a criação inteira, o desdobramento do manifestado, e portanto a presença de Deus no Mundo, a imanência divina. |
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Como já sabemos, há três signos zodiacais atribuídos a cada um dos elementos, ou seja: fogo, terra, ar, água. Assim ao fogo correspondem os signos de Áries, Leão e Sagitário; à terra, Touro, Virgem e Capricórnio; ao ar, Gêmeos, Libra e Aquário; e à água, Câncer, Escorpião e Peixes, como se pode apreciar na preciosa gravura logo abaixo.
Ver-se-á então nos signos da terra que Touro é passivo com relação a Capricórnio, que é ativo, enquanto que Virgem aparece como neutro; igualmente nos de ar, Libra é ativo, Aquário é passivo e Gêmeos neutro. O mesmo nos de água aonde Câncer exerce como energia ativa, Escorpião como passiva e Peixes como energia neutra. |
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A CONFUSÃO ENTRE METAFÍSICA E ASCETISMO: |
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Muitas pessoas sofrem um pecado que é preciso esclarecer, que pode ser a raiz de muitíssimos outros males, e que, inclusive, seja-lhes um impedimento para sua realização. Este equívoco trata-se da tremenda limitação de compreender o sagrado tão só como santidade, e portanto como algo inalcançável do qual só são dignos aqueles poucos escolhidos completamente fora de série, chamados "Santos" (sejam de uma ou de outra tradição, em particular se o demonstraram com fenômenos, milagres ou questões paranormais), com toda a carga devota, piedosa, beata e supersticiosa que essa idéia traz aparelhada. Estes Santos ou santarrões –e melhor seria se fossem ascetas– seriam os autênticos "mestres" e não os sábios ou os guerreiros e menos ainda os artistas ou comerciantes, que certamente são apreciados, e até respeitados, mas aos quais não lhes dá uma categoria mais que secundária –quase profana– pelo fato de que, em última instância, estas pessoas às quais estamos nos referindo associam "espiritualidade" exclusivamente com "santidade", e até com castidade e outras coisas piores, ou seja: com o "religioso" e com o "moral", e não com o metafísico. Quer-se deixar assentado que as vias de realização espiritual são várias, e distintos os caminhos que a ela levam. E não só são diferentes as formas tradicionais mas também dentro de cada uma delas há caminhos diferentes de iniciação. Este manual nos dá numerosos exemplos disso. O que interessa é a realização do Conhecimento e a obtenção da Sabedoria, o que não exclui o emocional, nem nenhuma outra experiência encaminhada a esse fim, e tampouco se opõe ao "religioso", e menos ainda ao moral, sempre e quando estes conceitos não pretendam usurpar o território do metafísico e tratar de reduzi-lo, no melhor dos casos, a um mero "misticismo" e, no pior, a uma moral baseada em certas normas de conduta convencionais que são julgadas oficialmente como "boas". Normas que dariam sua aprovação hipotética ao que se deve entender por sagrado de acordo a parâmetros que esta fixa, baseada na dissimulação derivada do engano de pretender conhecer o sagrado, quando na realidade ele é suplantado pelo religioso e pelo moral e, por desconhecimento, identificado sempre com a "santidade" ou com o "ascetismo", os quais são apenas alguns dos caminhos, quando o são, na viagem do Conhecimento. |
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