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NOTA |
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No Módulo II, título N.º 65 , falamos a respeito da alimentação. Sem excluir nada do que ali se diz, agora nos referiremos deste modo a certos temas conexos e aos enganos que podem derivar deles, a ponto de se constituírem em dificuldades, às vezes insolúveis, no caminho do Conhecimento. Dois exemplos bem nítidos são o preconceito "naturista" e o impedimento materialista. O segundo está intimamente ligado com a versão que o homem moderno tem de si mesmo e de todas as coisas, e corresponde, em termos gerais, à forma de ver da sociedade contemporânea, associada deste modo com a leitura literal e programada que este homem histórico tem do cosmo. O primeiro, vale dizer, o preconceito "naturista", é próprio de certas pessoas e grupos que pretendem "melhorar" sua situação individual dentro do caos que nos tocou viver. A ele nos referiremos agora, pois muitas das pessoas interessadas nos temas da Metafísica e do autêntico Conhecimento, ou seja, aqueles que têm uma inquietação interior, vêem-se freqüentemente tentados por certos atrativos que lhes oferece uma vida mais "pura", "natural" e "saudável". Haveria que se perguntar, desde o começo, o que se entende pelo hoje chamado "natural" e que conceito se possui na atualidade sobre a natureza. É bem sabido que, para as sociedades tradicionais e primitivas, que por certo são as que vivem integradas no cosmo e palpitam junto com os ritmos e com os ciclos naturais, em um plano perfeitamente universal –e ecológico–, a natureza não é o que os modernos supõem, ou seja: a superfície da paisagem ou hipotéticas questões vinculadas com a "saúde", da que também cabe perguntar-se: o que se entende por tal? Por outro lado, alguns alimentos específicos são considerados como "bons" ou "maus" de acordo a determinadas pautas que arbitrariamente fazem do "natural" seu lema, e de sua saúde "ideal", em uma verdadeira cruzada do tipo moralista e fanática, sem terem os conhecimentos elementares necessários para isso, e sem estarem informados da história e da cultura dos distintos povos que habitam desde sempre o mundo. É muito importante destacar que em nenhum texto sagrado das diferentes tradições se toma à alimentação como tema fundamental, e em geral nem o mencionam, já não como requisito prévio para alcançar determinados estados de consciência, nem mesmo de autêntica saúde corporal, senão que, em certos livros sacros, como o Evangelho cristão, esclarece-se que o importante não é o que entra pela boca, mas sim o que sai do coração do homem. Um caso muito difundido é o da prédica vegetariana. De fato nenhuma tradição –a hebraica, a cristã, a islâmica, a budista, a taoísta, etc.– salvo a hindu, pratica o vegetarianismo, ao que seus seguidores constituíram em um culto de que são devotos de uma maneira quase moral. Por certo que são muito bons os vegetais, como também todas as coisas que Deus pôs a disposição do homem; mas a exclusão de umas em benefício de outras, como se umas fossem "boas" e outras "más", fazem dessa forma de ver unilateral algo muito parecido às civilizações dessacralizadas ou profanas, e não às autênticas doutrinas tradicionais. Sobretudo, quando cai em extremos de acreditar e tratar de impor ao extremo a idéia de que só as verduras e frutas cruas são os alimentos autenticamente sãos, apreciação de maneira nenhuma verificável ao se ter que levar uma dieta prolongada desta natureza, com as moléstias e inconvenientes que conduz. Neste sentido, certas práticas e concepções de origem hindu, igual que outras derivadas do Hatha Yoga, próprias de simples faquires que pretendem fazer passar suas práticas como autêntica espiritualidade, são consumidas de maneira literal e vividas de modo pseudo-místico e de forma fanática, tanto no Ocidente, como no Oriente, assim no próprio seio da Índia atual, onde numerosas seitas de origem confusa e pensamento sincrético, muito influídas também pela cultura moderna, pregam determinados "ensinos" (e isto ainda nas cidades sagradas à beira do Ganges) que têm filiados em todos os países da Europa e da América, que são impedimentos sérios para a obtenção do Conhecimento quando estas prédicas e exercícios são tomados de maneira estritamente linear. Acreditamos que o "natural" tem que ser transcendido para poder dar lugar ao sobrenatural. |
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CABALA |
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A seguir oferecemos um singelo “talismã” numérico (recordemos que os números são também letras) baseado na Estrela de Davi ou Selo Salomônico, emblema de Israel. Poder-se-á observar que a soma das seis fileiras de números dão um mesmo resultado:
Igualmente, a soma dos números colocados nas pontas da Estrela dá 26 (13 para os dois extremos do eixo vertical e 13 para os 4 restantes). Este número, como sabemos, é particularmente importante na Cabala hebraica –e em outras tradições– e corresponde à soma das letras do Supremo Nome Sagrado YHVH, decomposto desta maneira:
Por outra parte, a soma do hexágono interior dá 52 (26 x 2), os quais adicionados aos 26 exteriores dão 78 (26 x 3), como o total de todos os números da figura. Queremos recordar que este é o número de cartas que possui um jogo completo do Tarô. |
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GEOMANCIA |
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Respeitamos o nome Geomancia, com que se acostumou a conhecer esta ciência, embora, rigorosamente, corresponder-lhe-ia o de Geologia, com o qual o homem contemporâneo designa uma disciplina nascida no século passado [N.T.: Século XIX]. Em chinês é chamada Feng-Shui e estuda as energias da natureza, em sua íntima relação com a terra, e por certo que esta ciência está estreitamente vinculada com a Geografia Sagrada. Na realidade, todos os povos e sociedades tradicionais utilizaram a geomancia com o fim de situar em determinados lugares e pontos chave tanto suas cidades, como seus templos ou casas de culto, e da mesma forma suas moradias. Para uma mentalidade tradicional, tanto a terra como o céu estão perfeitamente vivos e se expressam constantemente por mediação das energias que continuamente os formam. A terra respira, pare, resplandece, e adquire formas distintas em diversos lugares, assinalados por diferentes fenômenos (montanhas, vales, planícies, rios, cascatas, etc.), que são símbolos de idéias arquetípicas, ou melhor, de "outras coisas" existentes também no mundo do invisível, do espiritual. Por certo que estas concepções hão de se pôr em direta conexão com a idéia da analogia entre o macrocosmo e o microcosmo, a que vê na terra um ser vivo, sensível e gigantesco, expressão natural, como o homem, de um Ser Supremo, oculto em sua própria criação. Motivo pelo qual as energias cósmicas, e neste caso especial as telúricas, são igualmente os condutos pelos quais se manifesta a divindade e, portanto, assinalam lugares específicos de comunicação terra-céu. Esta circulação da energia, em ambos sentidos, é o que caracteriza, igualmente, à Geomancia como arte divina-tória, e a que busca por seu intermédio a localização adequada do ser humano no indeterminado e amorfo, instaurando uma ordem no caos. Uma das variantes secundárias desta ciência (ou arte) constitui-se na figura do Zahori [N.T.: Geomante ou rabdomante], que é o encarregado de encontrar água, ou corrente de energias benéficas (aproveitáveis), utilizando para isto um bastão ou um pêndulo. |
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FILOSOFIA PERENE |
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Algumas pessoas, de formação exclusivamente profana, talvez pudessem se surpreender com a existência de uma "Filosofia Perene", ou seja, de uma série ordenada de conhecimentos inter-relacionados, de uma doutrina (jamais de um dogma), capaz de explicar aos homens sua própria natureza e a do mundo em que vivem. Certamente que esta "panacéia" universal, capaz de responder a todas as perguntas, acalmar as angústias do mundo moderno e suprimir o sofrimento provocado pela ignorância, não é uma criação individual (nem muito menos "coletiva"), mas sim a expressão de uma revelação espiritual direta, obtida por distintas pessoas em diversos lugares, que reveste diferentes formas próprias e que, sobretudo, acha-se presente na própria entranha do ser humano e do cosmo em que este habita. Portanto, a revelação destes conhecimentos arquetípicos não é só horizontal e histórica, mas sim fundamentalmente vertical e eterna, como são as "idéias", princípios que formam o mundo e que se manifestam mediante leis universais, que foram conhecidas de modo unânime pelas diferentes tradições que formaram a História da humanidade ao longo de sua Geografia. Esta simples observação, que qualquer leitor armado de boa vontade pode constatar pessoalmente, supõe a idéia de um modelo universal, de um jogo de estruturas imutáveis, visíveis e invisíveis, sem as quais o mundo e o homem não seriam. Eis a importância de conhecer a cosmogonia como expressão simbólica da Inteligência Universal, energia subjacente a qualquer manifestação, tal e qual acontece com o pensamento, que antecede à palavra. Com efeito, este jogo de estruturas essenciais se expressa simbolicamente, e é por meio desses simbolismos, e de suas analogias e equivalências, que podemos entender a realidade última do cosmo e sua instância final: sua natureza incriada e, no entanto, sempre atuante. É este legado herdado das grandes tradições da Antigüidade uma autêntica cosmogonia arquetípica que, como tal, corresponde-se com as distintas simbólicas arcaicas, mediante as quais se expressa, reatualizando deste modo a realidade do mundo atual que, ainda órfão de todo conhecimento verdadeiro, segue constituindo uma autêntica teofania para todos aqueles que são capazes de compreendê-lo. Ademais, deve-se dizer então que se dedicar ao estudo das disciplinas tradicionais, e efetuar suas práticas com o propósito de despertar as potências adormecidas da alma, constitui um método apropriado do Conhecimento. |
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SIMBOLISMOS DE PASSAGEM |
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Agartha propõe uma total conversão de nosso modo ordinário de ser e uma busca perseverante de outros estados mais sutis aos quais devemos aportar. A aventura do Conhecimento, como vimos, é representada como uma viagem ou uma peregrinação ao Centro do Ser, para a Cidade Santa, ou seja, para nossa própria interioridade. Essa viagem, cheia de peripécias e perigos nos permite "passar", paulatinamente, a outras regiões mais internas, e cada um desses "passos" supõe uma "recordação", cada vez mais nítida, do Si Mesmo, da verdadeira identidade que permanece imóvel no meio de nosso próprio coração. De fato, todo símbolo sagrado, por sua condição veicular, supõe a possibilidade de uma "passagem", pois tem a característica de poder transportar o homem da realidade material que lhe mostram os sentidos para a verdade interior que se oculta detrás da aparência formal das coisas e dos seres. O símbolo toca os sentidos permitindo que, a partir dessa percepção sensível, elevemos-nos por seu intermédio para as regiões invisíveis que ele mesmo representa, tornando possível, portanto, a "passagem" a outros estados e graus de consciência e de vida. A ascensão e o descenso perpétuos que o Ser realiza pelas esferas da Árvore Sefirótica supõem uma "passagem" pelas vias que comunicam as distintas sefiroth entre si, sendo, de acordo à Cabala, 22 os caminhos que temos que cruzar (ver Módulo II, título N.º 28), relacionando-se cada um deles com uma letra do alfabeto sagrado e com uma lâmina dos arcanos maiores do Tarô. Há certos símbolos, queremos agora destacar, que se referem especificamente a estas "passagens" que têm que ser produzidas durante o processo da realização da Grande Obra. Estes, como o do Octógono, o da Porta, o atravessar as águas e o da Escada, poderão nos mostrar como realizar essas travessias pelas comarcas da mente universal. Os pensamentos, cada vez mais sutis, guiados por estes caminhos arquetípicos, levar-nos-ão por passadiços mais e mais estreitos, que desembocarão finalmente no En Sof, o nada ilimitado no qual só é o eterno repouso. "Através de Mim conhecereis o Pai". |
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AS TRADIÇÕES ARCAICAS |
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Aqui e ali, em distintos lugares do mundo, convivendo com a civilização moderna, podem se conhecer distintos grupos que ainda vivem virtualmente na "idade de pedra" ou na de "bronze", segundo o vocabulário (jargão) da "ciência" atual. Estes povos que ainda conservam fragmentos mais ou menos completos de suas tradições originais e vivem de acordo com elas, são denominados "primitivos" pela ciência oficial, ao se lhe escapar o sentido de seus costumes e de seus ritos, e ao não poder compreender a mentalidade tradicional, que vê na natureza uma imagem do supra-natural e no mundo e no homem uma série de energias invisíveis que constantemente o determinam; portanto, tem-se suposto que estes seres, aos quais se considera completamente faltos de inteligência, como estúpidos, ou no melhor dos casos meninos que não podem sair de sua pretendida ignorância, constituem uma espécie quase diferente, como de humanóides, muito próxima dos macacos, existente antes de que o homem tivesse podido ser tal graças aos adiantamentos e ao progresso instaurados pela ciência. Tal acontece porque um investigador das tradições arcaicas, que é um cético em matéria metafísica e considera a presença animada da deidade como algo pouco sério, jamais poderá entender esse mundo arcaico, e igualmente acontece com aquele que tem de Deus uma idéia exclusivamente religiosa ou de tipo moral. Com muita freqüência, estes dois tipos de estudiosos são os que dirigem a informação oficial, não entendendo eles próprios que sem a vivência íntima do sagrado é quase impossível a compreensão do que se acredita ser uma mentalidade tradicional. Uma pessoa, que nega o plano invisível ou espiritual, verá nos símbolos só elementos utilitários do tipo literal; por outra parte, um indivíduo religioso-moral quererá ver só o que é "inferior" a suas crenças, o que desprezará como lixo, ou se adotará o direito de perdoar a barbárie, ou o que ele supõe é um paganismo ignorante e supersticioso, incluídos os antigos ritos gregos iniciáticos de Elêusis e os "oráculos" de Delfos e o de Zeus, em Dodona do Epiro. Na verdade, este tipo de critério poderia melhor ser aplicado aos habitantes das grandes cidades, os que, de acordo com a programação do mundo contemporâneo, só aparecem como autômatos, positivamente escravos de seus condicionamentos culturais infligidos pela falsa religião da "ciência", o que equivale a institucionalizar definitivamente a ignorância. As grandes civilizações são na realidade uma degradação do pensamento tradicional, onde este, paradoxalmente, alcança seu maior brilho, antes de sepultar-se com seu próprio ciclo. E pelo contrário, certos povos arcaicos ainda conservam a "ingenuidade" e o frescor das origens. Deveríamos, nesse caso, perguntar-nos quais são os "ignorantes", ou os "primitivos", e que autoridade pode adjudicar, no mundo moderno, respeito a qualquer classificação em cada ramo de sua "ciência". Nada sabem os representantes "oficiais" do pensamento moderno, e às vezes se chega ao caso de alguns que tomam sua própria ignorância –que deveria lhes envergonhar– como um avanço com relação a um novo mundo do qual, através de sua incapacidade –institucionalizada como uma objetiva postura científica–, eles seriam a vanguarda construtora. |
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ASTRONOMIA-ASTROLOGIA |
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A astronomia é a mais antiga de todas as ciências e é a que determina uma civilização em sua origem, como o tem feito com todas as da Antigüidade. Efetivamente, o estudo dos ciclos e dos ritmos dos astros gera as pautas em que se fundamentará o pensamento religioso, político e econômico, toda a cultura, afinal, de uma sociedade. A partir daí é possível tirar conclusões particulares, baseadas em cálculos, relações e analogias, que se correspondem com um conceito reiterativo e circular do tempo, que dá lugar às predições sobre acontecimentos cíclicos e, portanto, reincidentes, que são estudadas pela astrologia, ou astronomia judiciária (como se lhe chamava na antigüidade). O ciclo mais curto e mais fácil de observar é o lunar que, em 29 dias e fração (28 dias para o pensamento antigo, dividido em 4 semanas de 7 dias), realiza um percurso e retorna ao mesmo ponto. Isto, sem considerar o percurso do sol no dia, ou seja, a diferença que existe entre o dia e a noite. Também a lua admitiu o estudo de ciclos maiores, o de seus eclipses que, conforme observaram os caldeus, produziam-se na mesma ordem depois de 223 meses lunares. O mais importante destes ciclos maiores dos astros é o da precessão dos equinócios, que se reitera a cada 25.920 anos (26.000 em números "redondos") estabelecido para a cultura ocidental por Hiparco, de Nicéia, e outros sábios tradicionais. Chama-se abóbada celeste, ou firmamento, uma semi-esfera cuja linha de contato com a terra é o horizonte, e cujo centro se encontra no olho do observador. Se este se mover, o horizonte se desloca. Igualmente, se o espectador contempla um astro, a reta ou raio visual que vai ao centro do astro, determina um ponto na abóbada celeste, que é a projeção do astro sobre ela, e como a distância que vai da terra aos distintos astros é imensa (recordemos que a que separa a nosso planeta do sol é de 150 milhões de km), em relação com o diâmetro da terra (6.378 km), supõe-se que os astros se movem em uma esfera ideal, de raio indefinido, denominada “esfera celeste” e cujo centro, do mesmo modo, encontra-se no olho do contemplador. Na realidade, o que o observador vê são as projeções dos astros sobre o firmamento e não os deslocamentos verdadeiros dos astros. Além disso, considera-se a terra como um ponto coincidente com o centro desta esfera celeste. Pelo que se pode verificar, que até a astronomia atual sustenta, e parte do ponto de vista geocêntrico, ou melhor, antropocêntrico, para construir todas suas especulações –e não poderia ser de outra maneira– em que pese que a ignorância e a vulgarização geral ponham uma ênfase pomposa e vaidosa sobre o heliocentrismo (perfeitamente conhecido pela antigüidade, conforme pode ver-se no papel primitivo atribuído unanimemente ao sol) como conquista científica, antes da qual nada se sabia de astronomia. Quer dizer que os que rechaçaram Nicolau Copérnico (autor de De Revolutionibus, publicada em 1543, em que sustentava o heliocentrismo, baseado precisamente na astrologia antiga) são os mesmos ignorantes que afirmam enfaticamente hoje seu sistema como oficial, sem compreendê-lo, e sem saber inclusive que a astronomia atual se fundamenta na terra e no homem, e em nenhum momento toma um ponto de vista alheio a eles, o que por certo seria totalmente absurdo e impossível. Vale o mesmo uma descrição geocêntrica ou antropocêntrica da terra (comparada com a heliocêntrica) e na prática a astronomia atual a segue utilizando; o mesmo aconteceu com relação a Einstein e ao fenômeno da luz. Entretanto, é tal a confusão do mundo moderno e nossos contemporâneos "cientistas" que são previsíveis suas aberrações e anomalias hoje computadorizadas, fomentadas pela má fé e pelo mesmo ódio que levou a proibir a obra de Copérnico (e, pouco mais tarde, levaram Giordano Bruno à fogueira e obrigaram Galileu a abjurar) um dos sábios herméticos e esotéricos do precisamente chamado Re-nascimento em relação com as culturas da Antigüidade. Nota: Embora as claves ou chaves das antigas ciências astrológicas parecem ter sido perdidas, os fragmentos que nos legaram permitem a especulação, e em muitos casos nos assombram com a justeza de suas interpretações na aplicação aos fatos cotidianos da existência. De todos os modos, quer se deixar claro que a Astrologia (derivada da Astronomia) é um simbolismo perfeitamente válido, como qualquer outro, para tratar de descrever e "apreender" a "realidade" sempre multifacetada e pluridimensional. Um sistema classificatório de noções inspirado nos movimentos cíclicos e rítmicos dos céus e suas influências determinantes no mundo e no homem. Uma ciência tal, estudada sob a luz da Tradição Hermética, é um instrumento a mais na busca do Conhecimento.
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AS TRADIÇÕES |
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Ao longo de nosso Programa nos referimos com freqüência a muitas das tradições ainda vivas ou já desaparecidas. E sempre destacamos o fato de que nessas tradições existe uma identidade quanto a seus símbolos, ritos e mitos principais, pois todas elas emanam de uma só e única Tradição, chamada primordial precisamente por sua condição essencialmente vertical e supra-histórica, o que lhe permitiu subtrair-se às mudanças do devir cíclico, conservando integralmente o Conhecimento (a Gnose) e a possibilidade permanente e salvífica de poder ser encarnado pelo homem de qualquer tempo e lugar. Isto vale também para nossa época em que, apesar de sua extrema obscuridão, ainda seguem vivas em diferentes lugares da Terra determinadas culturas tradicionais que não perderam seu vínculo com a Tradição Primordial, outorgando a influência espiritual-intelectual imprescindível para iniciar o caminho que nos leve a realização interior e à identidade com o Si Mesmo. Entretanto, não podemos desconhecer o fato de que todas as tradições atuais sofrem, em maior ou menor medida, uma degradação com respeito ao que foram seus valores originais, embora essa degradação afeta mais à forma exterior de que necessariamente se revestem (e que não é alheia às condições espaço-temporais), mas não ao seu fundo, ao seu núcleo e essência metafísica revelada através de seus códigos simbólicos.
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A PORTA |
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"Tinha um muro grande e alto e doze portas, e sobre as doze portas, doze anjos e nomes escritos, que são os nomes das doze tribos dos filhos de Israel: da parte do oriente, três portas; da parte do norte, três portas; da parte do meio-dia, três portas, e da parte do poente, três portas" (Apocalipse XXI,12-13). O despertar gradual da consciência pode ser visualizado como a abertura de portas que permite que o pensamento "passe" a outras regiões e que o adepto vá conhecendo os graus invisíveis do ser. A porta supõe sempre uma saída e por sua vez uma entrada, pois quando a atravessamos saímos de um espaço mental para ingressar em outro; e são várias as que temos que cruzar, cada vez mais estreitas, durante o processo da transmutação. A Iniciação nos Mistérios abre a porta que separa o mundo ordinário e profano daquele outro, sagrado, onde o espaço e o tempo recuperam sua verdadeira significação. Já nos referimos à Porta dentro do simbolismo construtivo, e queremos agora fazer certas observações sobre a "passagem" que este símbolo evoca. Vimos o templo como modelo do cosmo e como símbolo do espaço interior do homem. Sua porta exterior serve de separação –e por sua vez como ponto de união– entre o átrio –onde preponderam a multiplicidade e o caos do mundo ordinário– e o espaço interno, no qual reinam a ordem e a harmonia do sagrado e significativo. O iniciado, graças aos rituais que o qualificam para entrar, atravessa essa soleira, morrendo aos estados inferiores e exteriores e renascendo a uma vida interior em que as possibilidades superiores despertam. Esta Iniciação, ou porta de entrada aos mundos invisíveis, está representada na Árvore Sefirótica pela esfera 9, que por sua vez se relaciona com a lâmina número 12 dos Arcanos Maiores do Tarô. É interessante a relação que podemos fazer entre esta esfera –Yesod, o Fundamento– e o símbolo cristão de Pedro (que foi crucificado com a cabeça para baixo, como é a posição de "O Enforcado") que é a pedra de fundamento sobre a qual a Igreja se levanta. Neste sentido não é casual que seja o próprio Pedro o portador das chaves –ou claves– que abrem as portas do reino dos céus. Por outra parte, esta primeira porta está também relacionada com o símbolo da caverna e, em ambos os casos, o iniciado, uma vez que ingressou no espaço interior, deve atravessar pelo labirinto que finalmente o conduzirá –se não se perde– ao centro ou coração do templo, no qual se localiza a ara ou altar. No simbolismo cristão, vemos como neste espaço central (guardando o cálice ou taça, espaço vazio ou receptáculo da Shekhinah), há também outra pequena porta que só o sacerdote abre e que cobre o mistério dos olhos profanos. Esta porta se localiza em Tifereth –sefirah central que temos que transpassar, nascendo de cima, para começar a vislumbrar a realidade oculta sobre "a superfície das águas". Havendo recebido o batismo de água que abre a primeira porta, e uma vez realizado o percurso horizontal e labiríntico entre essa porta exterior e seu centro, ou coração, no qual se recebe o batismo de fogo, o adepto tem que iniciar uma "passagem" axial, vertical e ascendente pelo eixo invisível que conecta o altar com o ponto central da cúpula –de Tifereth a Kether–. Os ritos "primitivos" de subir a árvore, ou de subir pelo poste ritual, exemplificam esta ascensão ao final do qual o adepto terá que atravessar a porta mais estreita que se acha simbolicamente na sumidade do templo. Este é o buraco da agulha pelo qual não pode passar nenhuma riqueza individual. A agulha, com efeito, é um símbolo mais do eixo e do rito de enfiar uma linha na agulha, então, deve ser uma representação desta "passagem" pela porta estreita. O homem em sua busca do Conhecimento tem que sair primeiro do mundo ordinário para entrar em interior do templo; logo, deve se perder nos labirintos para se encontrar novamente ao atracar no centro; daí, terá que empreender a ascensão vertical em busca da sumidade e, finalmente, deverá sair pela porta zenital do templo, ou cosmo, para o supracósmico. Esta saída final é visualizada como o desatar ou dissolver o nó que nos mantém atados à individualidade e a um estado particular do ser, e sua conquista constitui uma fusão absoluta com o todo. "Batei e se vos abrirá". |
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